A transferência do juiz Nilton Luiz Elsenbruch Filomena para a cidade de Antônio Prado pode provocar mudanças na administração da Usina de Tratamento de Resíduos Sociedade Anônima (Utresa). Ele será substituído pela juíza Rosali Terezinha Chiamenti Libardi, que está de férias e ainda não tem data para assumir a Comarca. O cargo de interventor é de confiança do Judiciário. Caso a magistrada julgue necessário, pode trocar os interventores da Utresa, que atualmente são o engenheiro Heraldo Finger e o biólogo Jackson Müller.
Mas essas não são as únicas alterações na rotina da usina. Passados quase três anos e sete meses do desastre ambiental que resultou em 86 toneladas de peixes mortos no Rio dos Sinos, a empresa quer apagar a imagem ruim do passado recente e construir um futuro com menos agressão à natureza. Desde o vazamento do chorume de uma das valas, que teria sido a principal causa da mortandade, foram investidos mais de R$ 20 milhões em melhorias. O desafio atual é investir em novas tecnologias para reaproveitar materiais.
Desperdício atrapalha - Um incômodo para a Utresa é o volume de resíduos que ainda poderiam ser aproveitados pelo setor produtivo. Pedaços de couro, borracha, tecido e outros materiais revelam a despreocupação de algumas empresas com o desperdício. "Temos que criar meios para aproveitar melhor todos esses produtos, que poderiam se transformar em tapetes, capachos, descanso para pratos e uma infinidade de utensílios", defende o biólogo Jackson Müller.
Várias melhorias
A Estação de Tratamento e Efluentes (ETE) foi uma das benfeitorias mais significativas. A vala em que o vazamento foi verificado, foi selada com uma geomembrana para evitar o acúmulo de água da chuva. Um barranco de contenção com argila compactada está em construção. Telhados agora cobrem outras valas que antes ficavam a céu aberto. A área coberta chega a um hectare. A usina atende cerca de 200 usuários por mês e recebe aproximadamente 85 tipos de resíduos industriais em uma área de 43 hectares. São processados em torno de 10 mil metros cúbicos de resíduos por mês.
Uso PIONEIRO
Para Jackson Müller, é preciso desfazer a ideia de que a Utresa é uma vilã. "As pessoas ficaram com aquela imagem horrível de que a usina foi a responsável pelo desastre ambiental. A Utresa foi a pioneira no tratamento de resíduos industriais e muito do que se aprendeu nessa área é graças à ela", argumenta. No levantamento realizado, os interventores identificaram 13 pontos onde o chorume escapava e contaminava os arroio Portão e Cascalho, que são afluentes do Rio dos Sinos. "É uma pena que deixaram chegar naquela situação", lamenta. O primeiro trabalho foi corrigir as falhas. "Hoje temos uma usina segura", garante o biólogo.
Volume do aterro - Projetos foram elaborados para tentar diminuir o volume do material enterrado. Já foi encaminhado pedido de licenciamento para a criação de uma célula de compostagem. "Existem tecnologias para aproveitar os resíduos da queima do couro para transformar em energia", afirma o engenheiro químico João Luis Bombarda, que é contratado pelo Comitê Gestor. A Utresa pretende contar com o apoio de universidades e instituições de ensino técnico para criar formas de reaproveitar os resíduos.
ENTENDA O CASO
7/10/2006: Foram localizados os primeiros cardumes de peixes mortos, de um total de 86 toneladas, no Rio do Sinos
20 e 23/10/2006: Após denúncias, o Ministério Público realizou diligências nas proximidades da Utresa, onde encontrou saídas clandestinas de chorume para os arroios Portão e Cascalho
28/11/2006: O juiz de Estância Velha, Nilton Filomena, determina a intervenção da Utresa e decreta a prisão preventiva de Ruppenthal Luiz, que é considerado foragido
29/11/2006: Começam a ser feitas mudanças na Utresa para corrigir irregularidades
15/12/2006: O Ministério Público apresenta à Justiça a denúncia de 20 crimes ambientais que teriam sido causados por Ruppenthal e Utresa
28/12/2006: O titular da 1.ª DP de Sapucaia do Sul, Leonel Baldasso, conclui inquérito sobre a mortandade das 86 toneladas de peixe. Foram indiciadas 18 pessoas, entre elas, diretores e responsáveis técnicos de seis empresas autuadas pela Fepam em 19 de outubro e dois fiscais da própria Fepam, por negligência no licenciamento da Utresa
25/01/2007: O Tribunal de Justiça (TJ) do Estado nega por unanimidade o habeas corpus para Luiz Ruppenthal
19/03/2007: A Justiça de Estância Velha determina que cinco empresas envolvidas na mortandade de peixes paguem de indenização que totaliza R$ 267.750,00
3/05/2007: Ministério Público apresenta denúncia de novos 30 crimes contra Utresa e Ruppenthal
19/10/2007: O Supremo Tribunal Federal concede habeas-corpus em caráter liminar a Ruppenthal
20/11/2007: Ruppenthal se apresenta à Justiça
18/02/08: Ocorre a primeira audiência de Ruppenthal
19/06/2008: O TJ determina que o juiz Filomena é quem julgará os dois processos que correm na Justiça contra Ruppenthal
25/09/2008: É novamente realizada a audiência com Ruppenthal, referente ao primeiro processo
07/10/2008: O primeiro processo contra Ruppenthal entra e fase de memoriais, onde cada parte alega sua tese
12/03/2009: Filomena condena Ruppenthal a 30 anos de prisão: 12 de detenção no presídio de Montenegro e 18 de reclusão no presídio de Novo Hamburgo
(Jornal VS, 24/05/2010)