Espécie cultivada possibilita a extração do palmito e dos frutos
A recuperação da palmeira-juçara, que até hoje permanece ameaçada de extinção, tem garantido aos produtores gaúchos novas alternativas de renda. Além da tradicional extração do palmito, é possível também aproveitar o suco e a polpa do fruto da palmeira, conhecido como coquinho da juçara, muito semelhante ao açaí. Especialistas apostam nesse método diferenciado de exploração da palmeira como forma de reduzir a extração ilegal das árvores, prática que até hoje ocorre em regiões de Mata Atlântica.
Para evitar a extração ilegal, a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) assinaram um convênio para a implantação do Projeto Palmeira-Juçara. A iniciativa permitirá o estudo da viabilidade econômica da exploração dos frutos da palmeira, utilizando um manejo sustentável adequado. O projeto será implantado na unidade de pesquisa localizada em Maquiné, no Litoral Norte. “O projeto tem um cunho socioambiental, pois garantirá renda dos produtores, sem derrubar as árvores”, disse o presidente da Fepagro, Benami Bacaltchuk.
O cultivo de juçara tem se difundido de forma importante no Litoral Norte, especialmente de Osório a Torres. “O mercado existe e está em expansão, pois tomamos como base o grande interesse pelo açaí”, disse o pesquisador da Fepagro de Maquiné Rodrigo Favretto. Segundo ele, as propriedades nutracêuticas da juçara se equivalem às do vinho, pois são frutos ricos em flavonoides, que ajudam a combater os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce e pela incidência de câncer. O especialista aponta o cultivo dos frutos como melhor opção se comparado à extração do palmito, já que não há necessidade de cortar a árvore. “Com isso o produtor colhe o ano todo e não precisa esperar sete anos até a árvore chegar no ponto do palmito,” explicou. A produção ainda está muito restrita a poucas agroindústrias de cunho ecológico, que comercializam a polpa da fruta congelada.
Em relação à pesquisa, Favretto disse que muitos projetos têm sido desenvolvidos no sentido de multiplicar sementes, da viabilidade de cultivo em meio à floresta, melhor época de semeadura, produtividade. Na semana passada, a Fepagro assinou um convênio com a Ufrgs para realizar um estudo que indique a viabilidade econômica da juçara, aliado ao trabalho de fomento do fruto.
Com a difusão do cultivo da palmeira-juçara nas propriedades, tem aumentado o interesse da extração do palmito, produto com alto valor agregado. “O mercado é bom e muito pouca gente se dedica a essa atividade, o que sempre garante boa rentabilidade”, explicou o assistente técnico da Emater Metropolitana Roberto Sacknies. Segundo ele, a Emater tem realizado um trabalho junto aos produtores para incentivo do plantio da palmeira consorciada com bananais. “É possível colocar de 200 a 300 pés dentro do bananal. São plantas que não competem entre si, além disso a juçara ocupa as áreas ociosas dos bananais.”
A exemplo do que ocorre com a fruta da juçara, a produção de palmito ainda é muito restrita, pois há poucas empresas habilitadas para essa atividade. A área ainda é muito pequena, no Estado e a Emater não tem mensurada sua extensão. Sacknies diz que hoje a grande maioria do palmito que se encontra no mercado é oriunda da palmeira- real e também da palmeira-do-açaí, típica da região Norte do País. “Mas a juçara é de muito maior qualidade e a indústria dá sempre preferência para ela.”
(Por Ana Esteves, JC-RS, 24/05/2010)