O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, alertou hoje (21), ao participar da 9ª Jornada de Agroecologia, que o uso de agrotóxicos na agricultura faz do Brasil o primeiro consumidor mundial desses produtos químicos usados para combater pragas ou para o preparo do solo.
Para ele, a agricultura brasileira vive um período histórico muito complexo. “Estão em disputa, diariamente, duas grandes propostas, a do agronegócio e outra da agroecologia.” Segundo Stédile, o país consome anualmente 720 milhões de litros de agrotóxicos que contaminam a natureza.
“Na semana passada, o Sindicato dos Fabricantes de Defensivos Agrícolas, que representa dez empresas – nove multinacionais e uma brasileira – anunciou que, na safra do ano passado, foram comercializados 1 bilhão de litros”, disse. Stédile comentou sobre os riscos do uso desse produtos. “É preciso que a população saiba que todo esse veneno é de origem química, não é biodegradável, contamina o solo, a água, depois atinge o organismo do homem e a consequência, todos nós já sabemos, é, provavelmente, um câncer”, observou.
O coordenador do MST adiantou que a Via Campesina vai realizar, em julho, um seminário nacional que reunirá representantes dos movimentos sociais, do governo, de uma rede de estudos de toxicologia, de hospitais, do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e de cientistas. O objetivo é organizar uma campanha contra o uso indiscriminado de agrotóxicos.
Stédile disse que são encontros como a Jornada de Agroecologia, que reúne 3 mil participantes, que fortalecem o modelo desse sistema agrícola que preconiza o uso de defensivos naturais. “Alguns movimentos chamam de reforma agrária popular, outros de plano camponês, agricultura familiar, mas a característica é a mesma. Ao invés da monocultura, prioriza a agricultura diversificada, que respeita a biodiversidade”, explicou.
Ele visitou as oficinas temáticas que estão sendo realizadas no local do encontro e se disse satisfeito com a disseminação do conhecimento cientifico nos movimentos sociais, com a troca de experiências do que cada um está realizando em sua lavoura. Aos participantes do evento, Stédile disse que, em sua opinião, nunca houve reforma agrária no Brasil. “Nunca conseguimos um programa de governo que consiga, de forma rápida, desapropriar grandes latifúndios improdutivos. O que há, no Brasil, é uma política de assentamentos.”
As áreas, segundo ele, são desapropriadas à medida que os trabalhadores fazem pressão. “Seiscentas mil famílias conquistaram áreas de terra, nos últimos 25 anos. Existem 4 milhões de famílias sem-terra no Brasil. Poderíamos resolver o problema da reforma agrária afetando pouquíssimas propriedades”, argumentou. De acordo com Stédile, existem 15 mil fazendeiros proprietários de terras com áreas superiores a 2 mil hectares . “Juntos, eles são proprietários de 98 milhões de hectares. Para assentar as 4 milhões de famílias, precisamos desapropriar apenas 4 mil fazendeiros.”
(Por Lúcia Nórcio, Agência Brasil, 22/05/2010)