Pesquisadores da Academia Nacional de Ciências dos EUA recomendam a implementação de um preço pelo carbono como forma de combater as mudanças climáticas, mesmo se isso resultar no aumento do preço dos combustíveis e eletricidade.
No que está sendo considerado como o maior trabalho já realizado por uma entidade norte-americana sobre as mudanças climáticas, o Conselho de Pesquisa Nacional da Academia de Ciências dos Estados Unidos divulgou nesta quarta-feira (19) três relatórios alertando que o fenômeno é real e que deve ser encarado o mais breve possível. Para isso, a entidade pede, pela primeira vez, ações que podem acarretar no aumento do preço de combustíveis e energia elétrica.
Optando por um discurso mais ambicioso do que o de costume, a Academia Nacional de Ciências (NAS) aconselha que a administração Obama coloque em prática uma taxa sobre as emissões ou então um esquema “cap-and-trade”.
“As mudanças climáticas estão acontecendo e são causadas principalmente por ações humanas. É preciso aumentar o entendimento das pessoas sobre ela para que seja possível justificar políticas mais rígidas para mitigá-la”, afirma um dos relatórios.
Os três documentos, chamados de “America"s Climate Choices” (Escolhas Climáticas da América) foram encomendados ainda no governo Bush e chegam bem no momento em que o mundo observa a tragédia do vazamento de petróleo no Golfo do México e se pergunta que modelo energético deve seguir.
De forma geral, a NAS reconhece que colocar um preço no carbono seria a forma mais eficiente para reduzir as emissões, mesmo que isso leve a um aumento no custo do petróleo, carvão e, conseqüentemente, de eletricidade.
“Esta proposta, vinda de uma entidade como a NAS, deveria de despertador para o Congresso, um alerta de que a ameaça das mudanças climáticas são reais. Acordem e sintam o cheiro do carbono”, disse Alden Meyer, da Union of Concerned Scientists.
A idéia de um esquema “cap and trade”, que possui o apoio de membros do governo Obama, já foi proposta há alguns anos no Congresso, mas nunca conseguiu passar pelo Senado. A nova legislação do clima que está em discussão atualmente possui entre seus elementos a formação desse esquema, que funciona impondo um limite de emissões para as indústrias e se elas poluírem mais que suas cotas devem pagar por isso.
Medidas Concretas
A Academia recomenda que o governo corte as emissões entre 57% a 83% até 2050 com relação aos níveis de 1990. Para atingir esse objetivo, o estudo sugere que uma única agência federal coordene os esforços de pesquisa e mitigação das mudanças climáticas.
Para a NAS, o Programa de Pesquisas de Mudanças Globais (Global Change Research Program) poderia assumir esse papel desde que estabelecesse parcerias com outras iniciativas e passasse por reformas para poder acomodar essa nova função.
Os relatórios pedem ainda que as estratégias que forem adotadas sejam flexíveis e dessa forma possíveis de serem alteradas quando necessário. Isto porque o conhecimento sobre as mudanças climáticas segue evoluindo e políticas e programas que hoje pareçam eficientes podem ficar rapidamente obsoletos.
Não é do costume da NAS ser tão direta, porém quando o governo Bush encomendou os relatórios fez a seguinte pergunta: “Quais ações de curto prazo devem ser tomadas para lidar efetivamente com as mudanças climáticas?” Membros da Academia entenderam então que poderiam ter a liberdade de dizer o que realmente pode ser feito, mesmo que isso resulte em medidas impopulares.
“Nós precisamos começar a adotar essas propostas o mais rápido possível, é isso que a ciência está afirmando agora”, concluiu Robert Fri, co-autor de um dos relatórios.
(Por Fabiano Ávila, Carbono Brasil, Envolverde, 22/05/2010)