Programa antitabagismo alerta para as táticas de propaganda
Festas, baladas, música eletrônica e DJs renomados – o universo jovem é marcado por animação e agito. O estilo das roupas, dos cabelos, a linguagem – cada detalhe busca um conceito e influencia o modo de ser, pensar e agir dos jovens.
A indústria do cigarro sabe que esse público é promissor e que podem ser seus clientes regulares amanhã.
– Pesquisas apontam que os tabagistas iniciam o consumo em média aos 15 anos – explica Stella Martins, coordenadora do Programa de Atenção ao Tabagista do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), órgão da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Com a restrição da propaganda direta do cigarro, a publicidade para o jovem ficou mais sofisticada, com o aprimoramento do uso dos pontos de venda. A aposta passou a ser os chamados pontos de venda "ambulantes". Não só essa, mas muitas outras articulações da empresas de cigarro serão abordadas por Stella Martins no seminário Álcool, Tabaco e a Publicidade, promovido pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), dia 26 de maio, na Unifesp, em São Paulo.
Nessa nova modalidade de propaganda, as empresas promovem festas e divulgam amplamente sua marca como patrocinadora do evento através do estímulo visual dos logos, modelos e promoters, contratadas pelas empresas, segundo relata a especialista Stella Martins. Na oportunidade, os jovens preenchem cadastros que oferecem canais de comunicação, principalmente via e-mail, para a divulgação de novos eventos e brindes promocionais.
– Em todas essas ações as empresas criam uma imagem positiva junto ao jovem, que acabam por associar o cigarro com diversão e prazer – conta Stella Martins.
Esses e mais dados foram obtidos a partir de documentos divulgados após uma série de ações judiciais contra as empresas de tabaco nos Estados Unidos. Os relatórios revelam estudos minuciosos e reuniões onde se discutia abertamente táticas para conquistar consumidores.
– Até mesmo os aromas e sabores dos cigarros para o público jovem eram estratégicos. O de tutti fruti, por exemplo, remetia ao sabor de balas e chicletes, para lembrar a infância – relata.
Para Stella, evitar essas articulações implica na restrição total da publicidade do tabaco.
– Na maioria das províncias do Canadá, mesmo nos pontos de venda, os cigarros não ficam expostos ao público, ou seja, o fumante não visualiza nem o cigarro nem a marca. A ausência de estímulo visual tem efeito protetor tanto para o adolescente quanto para quem está parando de fumar – afirma.
(Zero Hora, 22/05/2010)