No último dia do Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale, 15 de abril, mais de cem pessoas reuniram-se na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Em audiência pública lotada, foi lançado o “Dossiê dos impactos e violações da Vale no Mundo”. Sentados nas cadeiras, no chão e em pé do lado externo do auditório, os participantes ouviram denúncias contra a empresa por parte de trabalhadores de diversos países e estados brasileiros. Canadá, Nova Caledônia, Peru e Moçambique, por exemplo, intercalaram denúncias com Ceará, Minas, Pará e Espírito Santo.
“Eles roubaram nossas terras, lançaram veneno em nosso ar e poluíram nossa água”, protestou James West, principal liderança da delegação canadense. “Moçambique é um país que precisa muito de desenvolvimento. A Vale chega prometendo um monte de coisa. A população aceita muito fácil. Eles não cumpriram nada, não pagaram pela terra e estão hoje presentes em todo o Moçambique”, disse Jeremias, trabalhador da Vale Moçambique, ao deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que coordenava a mesa.
“Não sei se vocês dimensionam o que está acontecendo aqui. O imperialismo brasileiro está nascendo. As empresas brasileiras se voltam para explorar força de trabalho em outros países”, afirmou a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Virginia Fontes.
Para ela, a teoria geopolítica de Ruy Mauro Marini, que nos anos de 1970 falava do subimperialismo brasileiro, precisa ser reelaborada no contexto atual. Agora, mesmo priorizando produtos primários, o Brasil já participa do controle hegemônico capitalista e organiza megafusões que geram corporações exploradoras de trabalho em países pobres.
Privatização criminosa
“O subsolo brasileiro é um dos mais ricos do mundo. E a Vale do Rio Doce foi uma empresa controlada pelo Estado brasileiro. Depois, foi privatizada. Fernando Henrique Cardoso pode ser apontado, e deve, como um dos maiores traidores da história brasileira. A privatização da Vale é um crime de lesa-pátria”, disse o deputado estadual Paulo Ramos (PDT), também integrante da Comissão de Direitos Humanos da Alerj. O deputado federal Chico Alencar (Psol/RJ) também esteve presente e entregou carta de apoio enviada pelo senador José Nery (Psol/PA).
Após a audiência, os manifestantes seguiram a pé até a sede da Vale. Os 160 ativistas que vieram ao Rio de Janeiro somaram-se a outros militantes e, em fila, marcharam pelo centro da cidade. “Brasil, Canadá, América Central. A luta pela Vale é internacional!”, gritavam, em coro.
Em frente à empresa, um bolo foi cortado e servido a funcionários da Vale, representando, simbolicamente, os nove meses de greve dos canadenses. Discursos inflamados seguiram-se por toda parte. A direção da empresa não se manifestou. Porém, sabe-se que tomaram conhecimento e discutiram internamente o encontro. “A gente tem que estar preparado para a forte reação que já se sabe que vai haver”, alerta Ana Garcia, da Fundação Rosa Luxemburgo. É esperar pra ver.
(Por Leandro Uchoas, Brasil de Fato, 26/04/2010)