(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
cvrd passivos da mineração passivos da siderurgia
2010-04-27 | Rodrigo

Numa sala simples de um colégio de freiras em Santa Teresa, no Rio de Janeiro (RJ), 160 pessoas se reuniam em carteiras estudantis comuns. Vestiam-se de forma distinta, não falavam a mesma língua e jamais haviam se visto. Mas um elemento comum lhes dava imediato interesse mútuo. Oriundos de, pelo menos, doze países e oito estados brasileiros diferentes, todos eram diretamente afetados por arbitrariedade cometidas pela Vale, seja por desrespeito a comunidades tradicionais ou por infração de normas ambientais.

À medida que se apresentavam uns aos outros, em clima de solidariedade, inúmeras barbaridades vinham à tona. Do Canadá à Nova Caledônia, do Pará a Minas Gerais, ouviu-se um grito uníssono de resistência. Era o início do 1º Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale, realizado no Rio, cidade sede da empresa, entre os dias 12 e 15.

O evento, contudo, começou antes. Já no dia 6, duas caravanas saíram, uma de Minas e outra da região de Carajás (Pará e Maranhão). Os ônibus seguiriam em direção à capital fluminense, parando em cada cidade onde houvesse degradação promovida pela empresa. Relatos desanimadores de cada parada intercalavam-se com a sensação de que a iniciativa, de união dos impactos, promoveria resultados positivos e daria força para o enfrentamento. Uma das caravanas sofreu perseguição. Um veículo acompanhou durante dias o ônibus principal e, segundo relatos, pessoas alegando serem jornalistas acompanharam algumas reuniões.

Os locais de partida das caravanas não foram escolhidos de forma aleatória. Carajás, de onde saiu a Caravana do Norte, possui a maior mina de ferro de alto teor do mundo e é a região na qual a Vale aplica a maior parte de seus investimentos. A outra veio de Minas, berço da empresa, original do município de Itabira, uma cidade com o mesmo nível de poluição de São Paulo (SP).

No dia 12, os movimentos sociais reuniram-se em Santa Teresa. Após a apresentação de cada integrante, e da programação, dirigiram-se conjuntamente à Baía de Sepetiba. Na área, a ThyssenKrupp, em sociedade com a Vale, está levantando a mais emblemática obra do Rio de Janeiro, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). Ainda antes de ser inaugurada, ela já foi acusada das mais bárbaras iniciativas, de devastação ambiental a acordo com milícias. Um protesto foi organizado no local. Ao mesmo tempo, um outro grupo se dirigia a Ipanema, para protestar em frente à casa de Roger Agneli, presidente da Vale. Neste ato, estavam presentes os personagens mais louvados, os canadenses.

O Canadá enviou uma delegação completa ao encontro. No segundo dia, 13 de abril, eles completaram nove meses de greve em duas das três unidades da Vale Inco paralisadas no país. O caso é tido pelos ativistas como o mais emblemático, já que localiza-se num país considerado desenvolvido no qual uma companhia brasileira entrou e impôs um nível incomum de exploração do trabalhador. Simbolizaria uma mudança no papel da economia brasileira – uma corporação nativa agindo, fora do país, como historicamente empresas de fora agiram aqui.

No Canadá, 3,5 mil trabalhadores estão em greve. No país, a Vale lucrou, em dois anos, 4,2 bilhões de dólares, o dobro do que a antiga Inco faturou em dez. “Nosso sindicato tem mais de cem anos. Jamais enfrentamos uma experiência de tamanho desrespeito e agressividade”, disse James West, sindicalista do United Steelworkers Canada (USW).

Mineradora mais rentável
Mais tarde, no mesmo dia, o objetivo foi mapear os mecanismos de atuação e as estratégias de enfrentamento contra a Vale. Enquanto um outdoor era instalado no Centro do Rio, informando a população sobre a realização do encontro, alguns estudiosos da Vale revelavam dados de pesquisas.

“Nos últimos dez anos, a Vale já é a quarta empresa mais rentável do mundo, a primeira entre as mineradoras. Nos últimos anos, ela só enviou 25% de seus lucros aos acionistas – o equivalente a R$ 2,5 a 3 bilhões”, explicou Nazareno Godeiro, do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese). Segundo ele, dois terços das ações da Vale são vendidos no exterior e a maioria pertence aos grandes bancos internacionais – JPMorgan, Citibank, ABN, Morgan Stanley, entre outros.

Segundo o Financial Times, a transnacional vale 139,2 bilhões de dólares, o que a coloca na 24ª posição entre as maiores do mundo. Nazareno também revelou que, em Carajás, um trabalhador leva quatro horas para pagar seu salário. “No restante, ele trabalha de graça”, compara.

Pesquisa apresentada durante o seminário dá conta de que 93% dos funcionários da Vale são a favor da reestatização da Companhia – medida, aliás, amplamente defendida durante o encontro. No período em que a Vale foi privatizada, em 1997, os trabalhadores foram amplamente favoráveis. A privatização da Vale é considerada, por muitos, o maior absurdo da história do país. Era uma estatal lucrativa e foi vendida por R$ 3,2 bilhões (aproximadamente 7% do que efetivamente valia), com financiamento do BNDES. Entre os palestrantes, havia os que não consideram a Vale privada, já que muitas ações ainda pertencem a instituições vinculadas ao Estado.

“É importante esclarecer que a Vale é um componente do cálculo macroeconômico que o Estado brasileiro faz. O BNDES tem relações com a Vale por diversas portas. Financia o plano quinquenal e possui doze golden share (tipo especial de ação) que lhe dão poder de veto sobre determinadas decisões”, denuncia Carlos Tautz, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). O analista considera que deve haver pressão para que o governo utilize as ferramentas de controle que tem. Tautz sugere que se submeta algumas deliberações à decisão popular.

Ações populares
Vice-presidente da OAB/MA, o advogado Guilherme Zagallo ressaltou a ineficácia desse modelo de desenvolvimento. “Quantas vidas vale um emprego?”, perguntou. Zagallo apresentou provas da ilegalidade da venda da empresa. Em primeiro lugar, ela foi vendida por menos do que cotavam valer os analistas. Depois, suas reservas de minério de ferro consistiam, em 1995, em 41,2 bilhões de toneladas. Em 1996, o valor foi reavaliado em menos – 28 bilhões. “Já estavam preparando a privatização”, justifica. “A Vale sempre pensou como se fosse um país. Eles têm até serviço de inteligência”, completa.

Foram discutidas também estratégias de enfrentamento para combater a ação danosa da empresa em conjunto. O advogado Eloá dos Santos Cruz, de importante trajetória no combate à privatização, pregou a atuação pelas ações populares. “São instrumentos jurídicos que permitem que cada cidadão aja como um fiscal”, explica. Segundo ele, há 16 ações contra a privatização ainda sub judice, abordando diferentes aspectos de ilegalidades ocorridas no processo. “Na verdade, a Vale ainda não foi privatizada”, declarou.

(Por Leandro Uchoas, Brasil de Fato, 26/04/2010)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -