Pouco antes, no salão nobre da prefeitura, o prefeito Luís Eduardo Colombo dos Santos assinava a ordem de serviço que simboliza uma esperança para cerca de 200 famílias com moradias próximas aos locais de risco. A ação integra a primeira etapa do processo de revitalização dos espaços com um investimento de R$ 694 mil. Foi anunciado, ainda, recurso equivalente a R$ 400 mil para o reassentamento de 20 famílias que residem em pontos críticos. Além disso, aguarda aprovação no Ministério do Turismo o projeto para a construção de áreas de lazer junto aos arroios Bagé e Gontan.
Conforme o secretário do Meio Ambiente, Alexandre Melo, a limpeza prevê a retirada do lixo e da vegetação acumulada no centro dos arroios, o que oportunizará profundidade e a otimização no fluxo de água. As árvores que se desenvolvem às margens serão mantidas, uma vez que a mata ciliar atua na proteção do curso da água e na contenção ou assoreamento. Junto à despoluição dos leitos, a proposta busca minimizar os estragos de enxurradas como a do dia 18 de novembro de 2009. “É uma medida emergencial”, enfatizou Melo.
Ele revela que, para sanar o problema que atormenta os bajeenses há décadas, será preciso a realização de uma macrodrenagem. A ideia propõe a retirada do excesso de água do solo. Para isso, é cogitado um plano de drenagem que pode contar, ainda, com a construção de uma barragem de amortecimento no Arroio Bagé. “É preciso garantir um destino para as águas”, aponta. “A desobstrução melhora a situação, mas não resolve”, justifica. O projeto está em fase de construção. Nessa fase, não há estimativa de valores para a efetivação do processo.
Um novo olhar
A cena da retroescavadeira no arroio Tábua, no trecho que compreende a rua Paulo Correa Lopes, localizada no bairro São Bernardo, encheu os olhos dos moradores. “Já era hora”, diz a dona de casa Taís Pereira Fiúza, 18 anos. Há um ano e meio, a jovem convive com a dificuldade de acesso à residência, com os odores e insetos que invadem a propriedade, mas também com a esperança da mudança. “Estou aqui por não ter condições para morar em outro lugar”, justifica.
Consciente de que as ações municipais poderão repercutir no cotidiano da família, ela dispara: “se for para ir para um lugar melhor, não há problema algum”. O pensamento é justificado pela presença dos filhos, de quatro meses e três anos, que são os que mais sofrem com a residência improvisada.
Há nove anos, a dona de casa Valquíria Machado Saucedo Melo, 27 anos, e o prestador de serviços gerais Luís Mário Pereira Dias, 31 anos, construíram um pequeno chalé na área verde. Nesse período, passaram por uma série de experiências traumatizantes. “Cada vez que chove é a mesma coisa”, diz a jovem que, por vezes, perdeu pertences graças à invasão da água. “Só a previsão do tempo já nos assusta”, conta.
A revolta é para com quem insiste em utilizar o arroio como reservatório de lixo. “Já vimos até caminhão dos bombeiros jogando sacos de entulhos”, conta Dias. “Pode ser que a partir de agora tudo se resolva”, salienta Valquíria. “Não vejo a hora de sair daqui, pois isso não é lugar para viver: meu sonho é nunca mais voltar para cá”, desabafou.
Espaço de lazer
Outra preocupação é a má conservação das áreas, sobretudo das margens e locais próximos aos arroios. Segundo Melo, para 2011 está prevista a construção de seis áreas de lazer nos espaços onde a poluição agride a natureza e proporciona um aspecto visual desagradável. A alternativa propõe a reeducação da comunidade. “É preciso investir para qualificar”, comunica. “O retorno será o cuidado, a conscientização”, pondera.
As áreas de convívio serão arborizadas e iluminadas. A proposta, elaborada pelo arquiteto Guilherme Rodrigues Bruno, prevê a criação de parques lineares. Ou seja, áreas verdes que ocupam uma extensão retilínea na via. Na ilustração, uma única árvore atua como um monumento ao arroio. “Por isso, utilizaremos uma espécie de estética significativa”, destaca. “A intervenção é uma celebração ao leito”, conclui.
(Jornal Minuano, 21/05/2010)