O uso de agrotóxicos aumentou consideravelmente nos últimos anos no Brasil, em cujas lavouras são usados indiscriminadamente produtos proibidos em outros países. O alerta é da gerente de Normatização e Avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Letícia Silva, que fez palestra nesta quinta na 9ª Jornada de Agroecologia, no município de Francisco Beltrão (PR).
De acordo com Letícia, só no ano passado, o consumo foi de 790 mil toneladas de ingredientes ativos, avaliados em US$ 6.8 bilhões, de produtos que, formulados, podem ser multiplicados
infinitamente. — Isso é muito grave — afirmou Letícia, adiantando que diversos produtos químicos usados nas lavouras e proibidos em outros países estão passando por reavaliação para verificar a possibilidade de comercialização.
Com apoio da Polícia Federal, a Anvisa fiscaliza os agrotóxicos comercializados no país e a forma como estão sendo produzidos pelas multinacionais. — Empresas que cometem irregularidades são autuadas, e o resultado dos processos é encaminhado para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para apuração das responsabilidades criminais — explicou.
Letícia Silva informou que, na próxima semana, a Anvisa deve divulgar os resultados de uma pesquisa que detalha o uso de agrotóxicos nos alimentos. A gerente da Anvisa é uma das participantes da Jornada de Agroecologia, realizada no sudoeste do Paraná. Cerca de 3 mil pessoas, entre acampados, assentados, estudantes, técnicos, pesquisadores e representantes de movimentos sociais de várias regiões do país, discutem, até o próximo sábado, um novo modelo de agricultura.
O agricultor Ariolino Morais, um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, sugeriu subsídios para o produtor que não usa agrotóxicos. — Afinal, estamos produzindo alimento saudável, o que acaba sendo remédio para doenças. É preciso tratamento diferenciado para quem produz de forma segura e tem apenas um pedaço pequeno de terra — argumentou Ariolino, um dos 370 mil agricultores familiares do Paraná, possuidores de áreas que não passam de 50 hectares.
Cerca de 1,2 milhão de pessoas estão envolvidas com a agricultura familiar no Paraná. Desse total, 5,3 mil trabalham na produção orgânica, responsável por cerca de 110 mil toneladas de alimentos por ano, cultivados numa área de 3,8 mil hectares.
(Agência Brasil, Zero Hora, 20/05/2010)