Entidades ligadas às áreas de saúde e meio ambiente entregaram ontem (19) um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedindo a proibição do uso e da fabricação de termômetros de mercúrio no Brasil. Elas propõem a criação de um programa de substituição desses termômetros por outros não tóxicos.
De acordo com a representante da Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte (Promac) Zuleica Nycz, os termômetros disponíveis no mercado são muito frágeis e detêm grande concentração do metal, o que pode contaminar pessoas e ambientes.
“O que queremos é que a Anvisa se sensibilize e nos chame para conversar. Acredito que deve sobrar um pouco de recursos [governamentais] para trabalharmos com a segurança química e proteger a saúde das pessoas e da própria biodiversidade”, disse.
Segundo Zuleica, um dos maiores entraves para a substituição por termômetros alternativos é o preço. Na maior parte dos locais de venda pesquisados por essas entidades, os termômetros não tóxicos custavam mais que o dobro que os de mercúrio.
“Temos um problema muito grave que exige subsídio ou políticas específicas. A máquina do Estado tem uma série de opções para baixar o preço de um produto que é de interesse da saúde pública. O que falta neste momento é vontade política”, afirmou.
Em junho, o Brasil participará da primeira reunião internacional que discutirá um tratado sobre mercúrio. Ela será realizada pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma), na Suécia. De acordo com Zuleica, alguns países como Argentina, Índia e Filipinas já proibiram o uso do metal.
Estudos financiados pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e realizada por organizações não governamentais internacionais revelaram que 83% dos hospitais e consultórios pesquisados no Brasil ainda usam termômetros de mercúrio, mesmo com a disponibilidade de produtos alternativos e do conhecimento dos profissionais de saúde sobre os riscos e a toxidade do material.
O mercúrio é um metal tóxico para os seres humanos, podendo afetar o desenvolvimento cerebral e o sistema nervoso. No Brasil, é usado em termômetros, em lâmpadas fluorescentes, em materiais odontológicos e em processos de mineração de ouro.
A Anvisa foi procurada várias vezes pela Agência Brasil para se manifestar sobre o pedido das entidades, mas até o fechamento desta matéria não respondeu.
(Por Daniella Jinkings, da Agência Brasil, EcoDebate, 20/05/2010)