Pesquisador enviou 12 mil aranhas para o instituto, destruído por incêndio
Responsável por destruir o galpão onde ficam insetos, aracnídeos e répteis, o incêndio no Instituto Butantã, em São Paulo, tem repercussão a 1,5 mil quilômetros de distância. O biólogo João Anacleto Bittencourt, de Santana do Livramento, levou um grande susto quando soube da destruição. Pelo menos 12 mil exemplares de aranhas do Pampa rio-grandense, objetos de estudo do pesquisador, devem ter se perdido em meio as chamas junto a mais de 450 mil aranhas, escorpiões e da coleção de cobras em formol do instituto.
Bittencourt começou a coletar os animais na localidade de Cerro Verde, a 16 quilômetros do centro de Livramento, há dois anos. Tinha ideia de fazer um projeto de mestrado sobre os aracnídeos, tendo em vista que acabara de concluir uma especialização em fauna, específica em aranhas.
– Entrei em contato com o curador da coleção de artrópodes do instituto, o professor Paulo Antônio Brescovit. Ele me deu todas as instruções para o meu projeto e comecei a mandar os animais que eu coletava aqui para lá, via correio – conta o pesquisador .
Em dois anos de coleta, o biólogo enviou ao instituto cerca de 12 mil aranhas das mais variadas espécies. Mesmo que ele tenha ficado com milhares de exemplares na cidade gaúcha, a destruição das aranhas que estavam em São Paulo dificulta o descobrimento de novas espécies, porque elas ainda não haviam sido catalogadas pelos taxonomistas do instituto.
– Estimamos que deixaremos de conhecer pelo menos 80 espécies de novas aranhas. Minha pesquisa ficou muito prejudicada – lamenta.
Embora não tenha recebido confirmação oficial do instituto de que as aranhas que enviou se perderam, o pesquisador não tem esperanças de que seu material tenha se salvado.
Ainda que a pesquisa não fique completa ao ponto de exprimir especificidades das aranhas do Pampa só possíveis com as análises específicas das aranhas enviadas a São Paulo, Bittencourt, professor do curso de Biologia no campus da Universidade da Região da Campanha em Livramento, seguirá o projeto.
(Por Marina Lopes, Zero Hora, 20/05/2010)