Um conselho de especialistas que assessora o presidente dos EUA sobre o câncer declarou na última semana que os estadunidenses estão sofrendo danos terríveis provocados pela presença de substâncias químicas no ar, nos alimentos e na água, e que este problema vem sendo amplamente ignorado e não regulamentado. O President's Cancer Panel pediu uma nova estratégia nacional que passe a focar nas ameaças presentes no meio ambiente e nos locais de trabalho.
Epidemiologistas há muito tempo sustentam que o uso do tabaco, a dieta e outros fatores são responsáveis pela maioria dos cânceres, e que os químicos e outros poluentes respondem apenas por uma pequena parcela -- talvez 5%. Embora não tenha apontado uma nova estimativa, o painel presidencial afirma que este número foi grosseiramente subestimado.
Segundo um relatório divulgado pelo conselho consultivo, “Com o crescimento do conjunto de evidências relacionando exposições ambientais [a substâncias químicas] ao câncer, a população está se tornando cada vez mais atenta à inaceitável irresponsabilidade do Estado com relação aos casos de câncer resultantes de exposição ambiental ou ocupacional a substâncias químicas que poderiam ter sido prevenidos através de ação nacional apropriada”.
Segundo os pesquisadores, as leis federais que regulamentam as substâncias químicas são fracas, o financiamento para a pesquisa e para a aplicação de medidas de controle é inadequado e as responsabilidades sobre o tema estão espalhadas em várias agências governamentais.
As crianças são particularmente vulneráveis. O relatório também alertou sobre o aumento inexplicável nas taxas de alguns cânceres em crianças e fez referência a estudos recentes que encontraram químicos industriais em sangue de cordão umbilical. “Em uma extensão assustadora, bebês estão nascendo ‘pré-poluídos’”, escreveram os especialistas.
Eles disseram ainda que os níveis de exposição a químicos em locais de trabalho estabelecidos pelo governo como seguros estão defasados. Em 2009, cerca de 1,5 milhão de homens, mulheres e crianças estadunidenses tiveram câncer diagnosticado, e 562 mil pessoas morreram da doença.
O sistema de regulamentação atual dos EUA determina que cabe ao governo o ônus de provar que uma substância química é insegura antes de poder retirá-la do mercado. É tão difícil provar o perigo das substâncias sob os padrões exigidos que os EUA até hoje não conseguiram proibir químicos como o amianto, que já foi amplamente reconhecido como cancerígeno e proibido em diversos países.
Cerca de 80 mil substâncias químicas são utilizadas comercialmente nos EUA, mas os órgãos reguladores federais somente avaliaram a segurança de cerca de 200 delas.
(The Washington Post, AS-PTA/EcoAgência, 18/05/2010)