Presidente da Aben diz que Brasil deve ter de quatro a oito usinas nucleares até 2030.
A polêmica sobre os rumos da energia nuclear no Irã – que voltam de forma frequente às páginas de jornais devido à possibilidade de o enriquecimento de urânio no país ter fins militares – levanta a questão dos investimentos no setor. O Opinião e Notícia entrevistou o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Guilherme Camargo, para avaliar a situação da energia nuclear no Brasil. Segundo Camargo, existem planos de expansão no mercado por parte do Governo Federal: “Não podemos depender das hidrelétricas e ficarmos reféns de São Pedro.” Ele informa ainda que o Brasil já é o sexto país em reservas de urânio do mundo e quer implantar, no mínimo, mais quatro usinas até 2030.
Opinião e Notícia: Qual a posição do país em relação a investimentos em energia nuclear?
Guilherme Camargo: Os investimentos têm foco na produção de energia elétrica. Os planos são ambiciosos e necessários para atender a demanda do país. O Plano Nacional de Energia Elétrica (PNE) prevê uma estratégia até 2030. Firmado em 2005, é atualizado anualmente e implica na construção de quatro a oito usinas nucleares, onde cada uma trará um adicional de mil megawatts ao país. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) se responsabiliza pela diretriz desse planejamento.
O&N: A construção de tantas usinas é necessária?
GC: A demanda vem crescendo permanentemente. Um exemplo foi o apagão de 2001. Não podemos depender das hidrelétricas e ficarmos reféns de São Pedro. Tem que haver uma complementação térmica dessa enorme participação das hidrelétricas, de forma que o Brasil não dependa do regime hidrológico. Dependendo dos estudos de projeção de crescimento, teremos mais usinas ou menos. Se a economia não crescer muito com quatro, construiremos mais.
Canteiro de obras de Angra 3, com Angra 1 e Angra 2 ao fundo
O&N: Qual a situação de Angra 3?
GC: Está em construção, com cerca de 2 mil pessoas trabalhando no canteiro de obras. O cronograma de entrega aponta para o fim de 2014.
O&N: Uma nova matriz deverá ser construída em breve?
GC: Já existe o primeiro estudo para a quarta usina, no Nordeste. Levamos em consideração pontos como o terreno, a localização e um local que seja próximo de um rio ou mar para ser feita a refrigeração da usina. Foram selecionadas algumas dezenas de sítios em Alagoas, Bahia, Sergipe e Pernambuco.
O&N: E a previsão para o início das construções?
GC: O quanto antes. A decisão final é política e deve ser tomada até o final de 2010 para alcançarmos a meta de um mínimo de quatro usinas construídas.
O&N: O Sr. acredita que essa meta será cumprida?
GC: O Brasil tem uma longa tradição de não cumprir seus projetos a longo prazo. Isso desde 1975, quando foi elaborado o primeiro planejamento. A ideia de fazer um planejamento de 25 anos é que ele seja sustentando ao longo de vários governos.
O&N: Caso o Brasil construa uma nova matriz, o governo ainda teria obrigações com o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha? Ainda teríamos que importar tecnologia alemã e cumprir com a compra de oito usinas nucleares?
GC: O acordo de 1975 não vale mais. Por volta do ano de 2000, todas as bases originais e acordos que previam as oito usinas nucleares foram invalidados. Ainda existe um acordo de cooperação, mas muito vago. Boa parte das construtoras de usinas nucleares da Alemanha foram desfeitas. A empresa que originalmente oferecia esse serviço — subsidiaria do grande conglomerado alemão, Siemens — foi vendida para a França e detém essa tecnologia. Angra 3 terá tecnologia alemã por uma questão de norma, por ter sido compreendida como uma usina gêmea de Angra 2. Entretanto, isso acontecerá com a parceria da maior empresa nuclear do mundo, a francesa AREVA.
O&N: O armazenamento do lixo atômico deixou de ser um problema?
GC: Os rejeitos radiativos são armazenados em contêineres, guardados de forma absolutamente segura, dentro da própria usina, e nada é jogado no meio ambiente, diferente de uma usina de carvão. As usinas não contribuem para o efeito estufa, não emitem CO2 e não têm impactos ambientais significativos. Ao contrário do que dizem os ativistas, nós armazenamos nossos rejeitos radioativos na própria área da usina nuclear.
(Por Vivian Vasconcellos, Opinião e Notícia, Envolverde, 18/05/2010)