Semanas depois da morte de uma pessoa e a hospitalização de outras seis por exposição a material radioativo em um ferro-velho de Nova Délhi, o Greenpeace desmentiu nesta sexta-feira a versão oficial de que a zona já não apresenta riscos e exigiu ao Governo que os elimine imediatamente.
No dia 22 de março um sucateiro encostou em um objeto que provinha de uma máquina radiológica vendida pela Universidade de Nova Délhi, detalhe que veio a público um mês depois. A pele do sucateiro começou a escurecer, ele perdeu o cabelo e morreu cinco semanas mais tarde.
Apesar das autoridades afirmarem ter limpado a zona e lançarem uma mensagem de tranquilidade para os moradores do bairro de Mayapuri (oeste de Nova Délhi), uma equipe da organização ambientalista Greenpeace visitou ontem a região e disse ter encontrado fragmentos de cobalto 60, cujo nível de contaminação radioativa é "muito alto".
Em entrevista coletiva na capital indiana, o especialista do Greenpeace Jan Vande Putte disse que há seis zonas perigosas ao redor da loja do morto e em uma delas o nível de radiação é cinco mil vezes maior que o normal.
"O risco agora não é que o povo morra ou perca o cabelo, mas o câncer e outras consequências a longo prazo", esclareceu o porta-voz do Greenpeace.
Se os sucateiros se expusessem a este material, superariam em apenas duas horas o limite da dose de radiação anual considerada nociva para a saúde pelos padrões internacionais, explicou Jan Vande Putte.
O especialista disse que retirar estes materiais supõe uma operação "singela" e que levaria apenas umas horas, embora depois deva ser feito um exame a fundo no bairro além da tomada das medidas necessárias.
Putte explicou que o Greenpeace identificou e marcou as zonas contaminadas para que as pessoas não se aproximem delas.
Após disparar o alarme em abril por causa da hospitalização do sucateiro, um grupo de cientistas detectou materiais radioativos no mercado e fez a retirada de uma parte.
Segundo denúncias dos moradores citados pela imprensa, a Polícia obrigou os sucateiros a realizar a limpeza eles mesmos.
Pouco a pouco mais pessoas foram ingressando nos hospitais com diferentes sintomas, embora as autoridades continuassem insistindo que a situação estava sob controle.
No final de abril se descobriu que a origem do cobalto 60 era a Faculdade de Química da Universidade de Délhi, onde se achava uma máquina de raios gama em desuso desde 1985, e que foi vendida aos sucateiros em fevereiro.
As autoridades prometeram uma investigação, mas se criou um debate em torno da segurança das instalações sob as diretrizes da Junta Reguladora de Energia Atômica (como é o caso desta Universidade) e as usinas nucleares.
O Greenpeace foi além nesta sexta-feira e denunciou que "a Índia não está preparada para a expansão planificada em massa de seu programa nuclear civil", iniciada após a assinatura de um pacto com os Estados Unidos.
Os ecologistas entregaram à imprensa uma lista de até 16 casos de perda ou roubo de materiais radioativos reconhecidos pelas autoridades desde 2000 e de uma "seleção" de 11 acidentes em usinas nucleares desde 1991.
A ONG também criticou a falta de "transparência" das autoridades sobre a segurança das centrais atômicas e pediu que se abra um debate público.
A falta de informações claras também é uma tônica habitual nos casos de acidentes nas fábricas indianas, algumas das quais carecem de mais elementares de segurança.
A pior tragédia industrial da Índia foi o vazamento de gases tóxicos da fábrica de pesticidas americana Union Carbide que em 1984 matou imediatamente três mil pessoas na cidade central de Bhopal, embora as organizações de ajuda às vítimas acreditem que o número total de mortos poderia rondar os 25 mil.
(EFE / Jornal VS, 17/05/2010)