Os cientistas e os ecólogos gostam particularmente da história do chamado buraco na camada de ozônio: o problema foi previsto há menos de 20 anos (e depois a descoberta levou o prêmio Nobel), foi medido sobre a Antártida e levou à adoção de um acordo internacional (Protocolo de Montreal, 1987) para proibir o uso dos compostos químicos que destroem o ozônio. Este mês, o primeiro anúncio da redução – ou buraco – na camada de ozônio sobre o continente branco, em maio de 1985, completa 25 anos.
Os cientistas celebraram a data na Universidade de Cambridge (Inglaterra) e explicaram que a espessura da camada de ozônio sobre a Antártica recuperará, em 2080, os mesmos níveis de 1950. Não faltou comparações com a mudança climática, mas neste caso vista com pessimismo, não por falta de conhecimento científico mas por falta de um acordo político eficaz que responda ao problema. Reportagem de Alicia Rivera, El País.
Joseph Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, do British Antarctic Survey (BAS), informaram, em maio de 1985, na revista Nature, sobre a descoberta da redução da camada de ozônio sobre a Antártida, na primavera austral. A revista científica relembra a data com um artigo de Shanklin no qual ele conta como foi feita a descoberta na estação antártica Halley, ao constatar que os valores mais baixos de ozônio, medidos em meados de outubro (na primavera do continente), haviam caído cerca de 40% entre 1975 e 1984.
“Já havia uma preocupação de que os CFCs [clorofluorcarbonetos] pudessem destruir a camada de ozônio, que fica localizada entre 10 e 35 quilômetros de altura da superfície terrestre e que protege a humanidade de mais de 90% da perigosa radiação solar ultravioleta”, recorda Shanklin. Os satélites permitiram constatar que o buraco na camada de ozônio se estendia sobre todo o continente.
Foram outros cientistas, antes destes três especialistas do BAS, que deram o alarme com seus estudos sobre a química atmosférica e a destruição do ozônio pelas reações com compostos como os CFCs utilizados nos aerossóis e refrigerantes. Por causa de seus trabalhos nos anos 70, Paul J. Crutzen, Mario J. Molina e F. Sherwood Rowland receberam o Nobel de química em 1995.
A camada de ozônio é uma proteção natural que filtra a radiação ultravioleta da luz solar, nociva para os seres vivos e capaz de provocar queimaduras na pele, câncer e cataratas nas pessoas. Uma molécula de ozônio é formada por três átomos de oxigênio, na atmosfera elas estão concentradas numa faixa a cerca de 20 quilômetros de altura. Há uma molécula de ozônio para cada 100 mil moléculas de ar, explica o BAS. O ozônio é gerado quando a radiação ultravioleta rompe as moléculas de oxigênio, e é destruído por reações químicas com o cloro e o bromo, emitidos para a atmosfera pelos CFC e os hidrocarbonetos halogenados.
Nos anos 80 eram emitidas 500 mil toneladas de CFC por ano, alcançando um valor acumulado de 30 milhões de toneladas na atmosfera, das quais um sexto chegava à estratosfera, informa a Unidade de Coordenação de Pesquisa do Ozônio na UE.
Embora a destruição do ozônio não se limite à Antártica, o buraco antártico é resultado da meteorologia local e do frio extremo durante o inverno, que aumenta a produção de cloro e bromo a partir dos gases contaminantes; quando chega a luz da primavera, a perda de moléculas de ozônio se acelera. “Hoje compreendemos bem a física e a química que regem a camada de moléculas de ozônio”, diz Shanklin. “Os níveis mínimos de ozônio ficaram constantes nos últimos 15 anos em cerca de 70% abaixo dos níveis do final da década de 70.”
Os destrutivos CFCs – proibidos desde 2000 pelo Protocolo de Montreal e substituídos por compostos alternativos na indústria –, alcançaram seu nível máximo em 2001 e logo começaram a cair. Mas seu efeito é duradouro e o buraco antártico continua aparecendo a cada primavera; em 2006 sua extensão foi a maior registrada; 28 milhões de quilômetros quadrados.
(El País, UOL Notícias, EcoDebate, 17/05/2010)