A maior coleção de cobras da região tropical do mundo foi perdida em um incêndio no Instituto Butantã, no sábado. Entre os exemplares queimados estavam centenas de espécimes que ainda nem haviam sido descritas pelos cientistas.
O incêndio aconteceu na manhã de sábado, no laboratório de répteis da instituição, localizado na zona oeste de São Paulo. Além de mais de 85 mil exemplares da coleção de répteis, aracnídeos também foram perdidos. Entre aranhas e escorpiões, a baixa foi de cerca de 450 mil espécimes, das quais milhares ainda não tinham sido descritas pelos biólogos do instituto.
O fogo começou entre 7h e 8h e foi controlado por volta das 10h. Foram necessários 10 viaturas e 50 homens do Corpo de Bombeiros. Não houve feridos. A previsão é de que o resultado da perícia seja divulgado em 30 dias. A suspeita é de que o incêndio tenha sido causado por um curto-circuito. Durante a noite de sexta-feira, a chave-geral do prédio havia sido desligada para serviços de manutenção na rede elétrica. O fogo começou quando a energia foi religada, pela manhã.
A princípio, pensou-se que haviam sido destruídos os livros com os registros de coleta dos espécimes, de suas características e condições. Mas, ainda no fim de semana, confirmou-se que eles foram salvos. O diretor do Instituto Butantã, Otávio Azevedo Mercadante, afirmou que o estrago foi muito grande.
– O prejuízo material, você recupera. O científico, não.
Para o herpetólogo (especialista em répteis e anfíbios) Miguel Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP), o incêndio foi um desastre de proporções incalculáveis.
– Perdemos um patrimônio insubstituível da história biológica do país – resume.
O Instituto Butantã surgiu em 1898, estimulado por um surto epidêmico de peste bubônica no porto de Santos. Sua criação foi oficializada em 1901. Treze anos mais tarde, foi inaugurado o Prédio Central do instituto.
Saiba mais
- Localizado ao lado da Cidade Universitária da USP, na zona oeste de São Paulo, o Instituto Butantã é ligado ao governo paulista.
- Foi fundado em 1901 pelo pesquisador e médico sanitarista Vital Brazil, inicialmente com o objetivo de combater a peste bubônica.
- Até sábado, guardava a maior coleção de cobras do mundo, com cerca de 80 mil serpentes, além de 500 mil artrópodes, como aranhas e escorpiões.
- É o principal órgão pesquisador e produtor de vacinas e soros do Brasil.
- Responde por 90% das vacinas e 60% dos soros consumidos no país – os mais conhecidos são os soros antiofídicos, que combatem os venenos das cobras. Também produz vacinas contra gripe, tétano, difteria, coqueluche, tuberculose e raiva, entre outras doenças.
- Os pesquisadores trabalham, atualmente, em vacinas contra a dengue e a leishmaniose, por exemplo.
(Zero Hora, 17/05/2010)