Idealizador do movimento chamado Let’s Do It – Clean Up Day, o empresário Rainer Nõlvak estará no Brasil durante esta semana para o III Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade. Mentor de uma ação que movimentou 50 mil pessoas na Estônia e se multiplicou pelo mundo, Nõlvak não se vê como único responsável pela limpeza do país.
– Foi um grande trabalho em equipe – conta.
Em uma parceria com a empresa Atitude Brasil, Nõlvak lançará oficialmente o projeto Limpa Brasil, que pretende envolver 150 mil voluntários para limpar a cidade do Rio de Janeiro em 24 horas. Ansioso para conhecer a cidade maravilhosa, o empresário adiantou para o Nosso Mundo um pouco da história do Clean Up Day. Entusiasta de um mundo melhor, ele também disse o quê o motiva:
– Quando eu envelhecer, poderei conhecer lugares mais limpos.
Nosso Mundo Sustentável – Como surgiu a ideia do Clean Up Day?
Rainer Nõlvak – Começou com uma conversa casual com um amigo, Toomas Trapido, quando compartilhei o meu desgosto pelo que aconteceu com as florestas da Estônia, que um dia foram bonitas. Havia milhares de pilhas de lixo, e só piorava. Piorava tanto que parecia que todo mundo estava impotente diante do problema.
Toomas contou seu sonho de ter o país limpo em cinco anos ou mais. E eu percebi que isso seria impossível do jeito que andávamos. Quando ouvimos esse “deixar o país limpo”, a solução apareceu. Esquecemos a burocracia, a falta de dinheiro e as regulamentações. Nós poderíamos tornar aquilo um dia de festa para todos. Nesse momento, nasceu a ideia.
Nosso Mundo – Qual é a importância de um programa como esse para a Estônia?
Nõlvak – Ele trouxe o sentimento de união para o país. Uma coisa é cuidar da natureza sentado na poltrona. Outra bem diferente é ir para fora de casa e remover a sujeira. O apoio brilhou na Estônia naquela tarde, e todo o lixo se foi. Em seguida, a maior parte dele foi classificado – pneus, eletrônicos, móveis, vidro, embalagens, resíduos tóxicos etc. Foi uma lição enorme para a reciclagem.
Nosso Mundo – Como a população aderiu ao programa? Houve resistência?
Nõlvak – Primeiro, houve a sensação de “não pode ser verdade, mas vou ajudar”. Então, a equipe cresceu e começou a parecer real. Foi difícil convencer as empresas de gestão de resíduos e os governos locais. Mas o truque foi nunca acusar ninguém – apenas pedir ajuda. A chave para o sucesso do Clean Up Day é o desejo de começar a ter um país realmente limpo. Com motivações honestas, é provável que as pessoas gostem e apoiem a causa.
Nosso Mundo – Como é possível transformar o programa em algo maior que apenas uma ação imediata?
Nõlvak – O mais difícil é mudar os nossos hábitos. Quem joga lixo nas florestas não odeia as florestas. Simplesmente é indiferente, não se importa com elas. O Clean Up Day é uma maneira de criar o sentimento de união, o primeiro passo. Podemos começar com coisas simples – vamos limpar nossos países, em primeiro lugar. Manter o hábito exigirá menos esforço do que criá-lo.
Nosso Mundo – Você tem algumas experiências anteriores com voluntariado. Ele é fundamental para o desenvolvimento da sociedade?
Nõlvak – Acredito que fazer algo sem esperar nada em troca é o que diferencia quem fala de quem faz. E é isso que mantém a sociedade em conjunto. Muitas pessoas bem-sucedidas pensam que é suficiente enviar dinheiro para caridade, sem saber o quanto estão perdendo. É difícil colocar em palavras o quanto eu aprendi no voluntariado. Ele me ensinou o que realmente importa.
(Zero Hora, 17/05/2010)