O ‘Terceiro Panorama Global da Convenção da Biodiversidade (CBD)’, lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU), revelou que os governos não cumpriram com a promessa de proteger a biodiversidade de seus países. Por consequência, muitas espécies de plantas e animais estão gravemente ameaçadas. De acordo com o relatório, a perda da biodiversidade biológica não só é constante, como também está se agravando.
O ano de 2010 foi definido pela ONU como o Ano Internacional da Biodiversidade. Em virtude disto, foram analisados os esforços dos países signatários "para uma redução significativa do ritmo atual de perda da biodiversidade em nível mundial, regional e nacional, como contribuição à redução da pobreza e em benefício de todas as formas de vida da terra". A constatação foi que as ações foram insuficientes.
"Apesar de os governos terem manifestado vontade de dar um basta na perda da biodiversidade, os resultados foram patéticos. A biodiversidade está sendo perdida em uma velocidade assustadora. Hoje já temos mais de 400 espécies ameaçadas e este número é impreciso", afirmou Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
De acordo com Paulo, a perda da biodiversidade vem se intensificando por cinco fatores: destruição dos habitats, que são convertidos na maioria das vezes em plantações; mudanças climáticas; poluição; exploração não sustentável e introdução de espécies invasoras em diferentes ambientes. Entre estes, a destruição dos habitats se converteu no problema mais sério.
O relatório da ONU esclarece a existência de outros problemas como a extinção, no século passado, de pelo menos 31 espécies de aves; a diminuição da diversidade genética de diferentes tipos de cultivo e de rebanhos; a rápida deterioração dos corais; a situação de perigo de extinção de um quarto das espécies vegetais, entre tantas outras situações alarmantes que necessitam de ações urgentes.
Apesar dos resultados insuficientes, o Panorama Global da Convenção da Biodiversidade afirma que as ações em apoio à diversidade estão se movendo na direção correta em vários campos importantes. "Estão protegendo mais zonas terrestres e marinhas, há mais países lutando contra a grave ameaça das espécies exóticas invasoras, e se está destinando mais dinheiro à aplicação do Convênio sobre a Biodiversidade Biológica. Mas com frequência estes esforços são menosprezados por políticas contraditórias".
Paulo esclarece a contradição no contexto brasileiro: "Em oito anos foram criadas muitas áreas protegidas, mas as florestas seguem sendo destruídas. Uma ação acaba anulando a outra. O Brasil é o país que tem a maior diversidade do planeta, mas isso não está sendo cuidado. Hoje já temos 17% da Amazônia desmatada. Especialistas afirmam que se essa ação chegar a 40% a Amazônia ficará seca, poderá chegar a um ponto de não retorno e se transformar em cerrado, que é um bioma mais podre", explica.
Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas, por meio do relatório, também alerta para os danos causados pela falta de atenção e empenho suficiente para a reversão da perda da biodiversidade biológica. "Se não se corrige rapidamente esse fracasso coletivo, suas consequências serão graves para todos".
Mesmo em meio a um quadro ambiental preocupante, Paulo acredita que ainda há tempo para reagir. "Acredito que ainda é possível reverter a situação ambiental com bastante na vontade política, mas o que vemos, infelizmente, é a falta dessa vontade. Todos operam como se a natureza fosse um bem privado e não um patrimônio da humanidade. No Brasil, há uma conspiração para mudar o código florestal e reduzir a política de proteção ambiental. Estamos conspirando contra nossa própria vida", lamenta.
Acesse o relatório completo aqui.
(Por Natasha Pitts, Adital, 16/05/2010)