O presidente Barack Obama criticou furiosamente, na sexta-feira (14/05), a atitude das três companhias envolvidas no vazamento de petróleo no Golfo do México que se acusam mutuamente, afirmando que a atitude delas se constitui em um “espetáculo ridículo”. Obama fez a crítica apesar do fato de o seu próprio governo estar sendo criticado por não ter se empenhado suficientemente em prevenir uma calamidade ambiental.
Em observações feitas durante uma aparição no Jardim Rosado da Casa Branca, Obama criticou também aquilo que chamou de “o relacionamento amigável” entre o governo e a indústria petrolífera, um vínculo que prevalece há décadas, e que incluiu o seu próprio governo. Ele admitiu que as agências federais não foram capazes de assegurar que os padrões de segurança e ambientais estavam sendo seguidos e anunciou uma rigorosa revisão do processo de fiscalização. “Eu não tolerarei mais acusações mútuas ou irresponsabilidade”, declarou Obama. “Esta é uma responsabilidade que todos nós compartilhamos”.
Os comentários do presidente refletiram a impaciência da Casa Branca devido ao fato de a BP não ter conseguido acabar com o vazamento de petróleo no Golfo do México, bem como o alarme com a possibilidade de a ira popular voltar-se em breve contra o governo. Autoridades da Casa Branca têm se reunido diariamente para discutirem como enfrentar o vazamento de petróleo. Mas, em meio a relatos de que o governo pode ter sido apressado ao conceder licenças de perfuração à BP e a outras companhias, Obama convocou na sexta-feira autoridades graduadas do governo a comparecerem ao Salão Oval da Casa Branca para discutirem maneiras de intensificar a resposta do governo ao problema.
Enquanto grupos ambientais criticavam a atitude do governo em relação à perfuração de poços de petróleo, os democratas tentavam na sexta-feira impedir que a questão provocasse ainda mais danos políticos em um ano eleitoral. O Comitê Nacional Democrata enviou uma mensagem de e-mail a repórteres citando um artigo publicado pelo “The Atlantic Monthly” que afirma que a resposta do atual governo ao vazamento de petróleo tem sido muito melhor do que a reação do então presidente George W. Bush diante da tragédia provocada pelo furacão Katrina.
Na sexta-feira, no Golfo do México, técnicos da BP estavam preparando a primeira de várias tentativas de tapar a fonte do vazamento e recuperar parte do petróleo. A companhia pretende inserir uma tubulação na extremidade aberta do tubo de perfuração, a fonte do maior vazamento.
Um segundo dispositivo de intervenção, apelidado de “top-hat” (“cartola”), já se encontra no fundo do mar, aguardando o momento de ser colocado sobre o maior vazamento, caso a inserção do tubo fracasse.
Uma perfuração secundária está sendo realizada para bloquear o poço submarino que está vazando. As autoridades informaram que a perfuração secundária atingiu uma profundidade de 2.700 metros em relação à superfície do oceano, o que é cerca da metade do ponto previsto de interseção com o poço original.
Autoridades do governo aprovaram o uso de dispersantes químicos de petróleo em grande profundidade após vários testes e consultas a cientistas, segundo a vice-almirante Mary Landry, da Guarda Costeira, a comandante mais graduada no local. A vice-almirante disse também que a previsão meteorológica para os próximos dias é favorável, de forma que as operações para retirar e queimar o óleo na superfície do mar serão retomadas.
Obama reiterou que pretende dividir o problemático Serviço de Gerenciamento de Minerais, que supervisiona as perfurações em alto-mar, “de forma que a parte da agência que concede autorizações para a prospecção de gás e petróleo e coleta os royalties seja separada do setor encarregado da inspeção de plataformas de petróleo e da aplicação da lei”. Dessa maneira, afirmou Obama, “não haverá conflitos de interesse, reais ou percebidos”.
Mas ao mesmo tempo em que Obama anunciava as mais recentes ações do governo em resposta ao vazamento, a sua administração era criticada por permitir que a agência continuasse atuando como sempre e concedendo licenças, mesmo depois que Obama assumiu o cargo prometendo uma reforma no setor.
Ambientalistas e defensores de maiores restrições à exploração de petróleo no alto-mar questionaram, por exemplo, a decisão de Obama de expandir as perfurações a partir de plataformas marítimas – uma decisão anunciada em março – antes de primeiro ter resolvido o problema do relacionamento estreito entre governo e indústria na agência.
“A questão básica é saber como esta decisão de expandir a prospecção de petróleo no alto-mar foi originalmente tomada”, afirma Steve Kretzmann, diretor-executivo da Oil Change International, um grupo ambiental que se opõe às perfurações de poços de petróleo no oceano. “Eu creio que isso é o resultado de cálculos políticos como resposta à turma que defende a exploração de petróleo no mar a qualquer preço”.
O deputado Darrell Issa, republicano pelo Estado da Califórnia, disse que a agência deveria ser desvinculada do Departamento do Interior e reformulada. “Hoje o presidente reconheceu aquilo que era óbvio, mas que vinha sendo ignorado havia anos – que o Serviço de Gerenciamento de Minerais tem sido uma agência em crise durante a maior parte dos últimos três governos”, afirmou Issa, o principal parlamentar republicano do Comitê de Supervisão e de Reforma do Governo na Câmara. “Tudo o que se precisa fazer para constatar a história de corrupção e falta de funcionalidade do Serviço de Gerenciamento de Minerais é examinar qualquer um dos relatórios compilados pelo Departamento de Responsabilidade Governamental e inspetores-gerais nos últimos dez anos”.
Embora vários relatórios e investigações demonstrem que o serviço era essencialmente um órgão que atendia aos interesses da indústria petrolífera antes de Obama assumir a presidência, o governo não tomou nenhuma ação significativa quanto a isso até a ocorrência do vazamento. A Casa Branca declarou na sexta-feira, em um comunicado à imprensa, que conhecia a debilidade políticas das chamadas exclusões categóricas ou isenções automáticas de avaliações de impacto ambiental, mas que não tomou providências finais para modificar essa situação.
Assim, a Casa Branca e o Ministério do Interior anunciaram na sexta-feira uma revisão acelerada de todas as ações tomadas pela agência de supervisão das riquezas minerais segundo a Lei Nacional de Políticas Ambientais, conhecida pela sigla em inglês NEPA.
A lei, uma das bases da política ambiental instituída após o vazamento de petróleo ocorrido em 1969 em Santa Bárbara, na Califórnia, determina que as agências federais precisam realizar uma rigorosa avaliação ambiental antes de aprovarem qualquer grande projeto, especialmente em se tratando de perfuração de poços de petróleo no mar.
O Serviço de Gerenciamento de Minerais ignorou esse processo ao conceder centenas de licenças recentes de perfuração, segundo anunciou na sexta-feira o jornal “The New York Times”. O plataforma de petróleo da BP que explodiu no Golfo do México no mês passado foi isenta do processo previsto pela NEPA porque executivos da companhia garantiram aos reguladores que aquela operação oferecia poucos riscos. Autoridades governamentais aceitaram os argumentos da companhia e concederam a licença.
O governo declarou que estudará uma maneira de os reguladores da indústria de petróleo aplicarem a lei ambiental e que fará mudanças caso seja necessário.
O secretário do Interior, Den Salazar, disse que uma revisão das políticas para a agência do setor mineral “é uma parte importante da atual investigação ampla e rigorosa deste incidente, mas ela também dá continuidade às iniciativas de reforma que nós temos implementando” por meio do Departamento do Interior. Ele afirmou que investigará como as leis relativas a espécies ameaçadas e mamíferos marinhos são aplicadas à regulamentação da prospecção de petróleo em alto-mar.
Kieran Suckling, o diretor-executivo do Centro para a Diversidade Biológica, disse que as medidas anunciadas nesta semana pelo presidente e pelo Departamento do Interior pouco contribuem para a segurança das atuais e futuras operações de perfuração de poços de petróleo em alto mar.
“Ken Salazar assumiu o cargo anunciando, 'Há um novo xerife na cidade', e prometeu reformar o extremamente corrupto Serviço de Gerenciamento de Minerais”, afirmou Suckling. “Ele tomou medidas relativas a ações pessoais e criminais, mas não fez absolutamente nada no sentido de modificar a perigosa prática da agência de conceder automaticamente licenças para a exploração de petróleo no alto-mar”.
(Por John M. Broder e Helene Cooper, The New York Times, 15/05/2010)