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répteis extinção de espécies impactos mudança climática
2010-05-14

Um estudo realizado no México por uma equipe internacional de cientistas indica que a elevação das temperaturas levou à extinção 12% da população de lagartos do país. De acordo com o modelo de previsão desenvolvido com base na descoberta, cerca de 20% de todas as espécies de lagartos do planeta poderão ser extintas até 2080.

O estudo, coordenado por Barry Sinervo, professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (Estados Unidos), teve seus resultados publicados na edição desta sexta-feira (14/5) da revista Science.

O modelo de risco de extinção desenvolvido pelos cientistas é capaz de fazer previsões em localidades específicas nas Américas, Europa, África e Oceania onde populações de lagartos estudadas previamente já haviam sido extintas localmente.

“Fizemos um extenso trabalho de campo para validar o modelo e mostrar que as extinções foram decorrentes da mudança climática”, disse Sinervo. “Em nenhum dos casos estudados houve extinção por perda de habitat. Essas localidades não tiveram nenhum tipo de perturbação e a maior parte delas está em parques nacionais ou outras áreas protegidas”, afirmou o cientista.

O desaparecimento de populações de lagartos poderá ter repercussões em toda a cadeia alimentar, de acordo com o artigo. Importantes presas para muitos pássaros, cobras e outros animais, os lagartos são também predadores importantes de insetos.

Os biólogos também documentaram que houve, em todo o mundo, dramáticas reduções de populações e extinções entre os anfíbios. De acordo com as estimativas, um terço das espécies de anfíbios estariam em risco de extinção. Mas Sinervo observou que as extinções de anfíbios são atribuídas principalmente à propagação de uma doença fúngica mortal.

“Nossa pesquisa mostrou, por outro lado, que no caso dos lagartos as extinções são diretamente decorrentes do aquecimento global a partir de 1975”, disse Sinervo.

No México, os cientistas reavaliaram 48 espécies de lagartos do gênero Sceloporus em 200 locais onde eles haviam sido estudados entre 1975 e 1995. A equipe constatou que 12% das populações locais haviam sido extintas.

A fim de investigar a ligação entre as extinções e a temperatura, os pesquisadores foram a campo em um local na península de Yucatán, onde outros cientistas haviam observado previamente populações do lagarto azul espinhoso (Sceloporus serrifer). Depois de construir um dispositivo que imita a temperatura do corpo de um lagarto tomando sol, a equipe registrou as temperaturas em um microchip e instalaram os dispositivos, por quatro meses, em locais expostos ao sol, com ou sem populações sobreviventes de lagartos azuis espinhosos.

“Os resultados foram claros. Esses lagartos têm necessidade de tomar sol para se aquecerem, mas, quando fica quente demais, eles precisam recuar para a sombra e então não podem caçar para se alimentar. Nos locais de extinção em Yucatán, descobrimos que o número de horas diárias que eles podiam sair da sombra havia despencado. Eles mal conseguiam sair para se aquecer e já tinham que recuar”, explicou.

Sinervo e sua equipe usaram essa descoberta para desenvolver o modelo de risco de extinção que leva em conta as temperaturas máximas do ar, a temperatura corporal fisiologicamente ativa de cada espécie e o número de horas em que a atividade dos lagartos é mais restrita pela temperatura.

Ao comparar as previsões do modelo com os dados observados no México, disparidades só apareciam nos locais onde a população havia sido eliminada antes do esperado devido a competição com alguma espécie que havia expandido seu alcance por não se adaptar às altas temperaturas.

Os pesquisadores acreditam que a mudança climática está sendo rápida demais para que os lagartos possam compensá-la com adaptações fisiológicas às altas temperaturas. “A evolução pode ser uma resposta às mudanças climáticas, mas a partir de certo ponto, os lagartos simplesmente não conseguem se adaptar. Nossa previsão é que 40% das espécies locais vão se extinguir e aproximadamente 20% das espécies estarão extintas até 2080”, afirmou.

O artigo Erosion of Lizard Diversity by Climate Change and Altered Thermal Niches, (DOI: 10.1126/science.1184695), de Barry Sinervo e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org

(Agência FAPESP, 14/5/2010)


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