Um observatório do mercado internacional de agrotóxicos foi criado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para revelar em detalhes as relações do setor e orientar a política do Brasil enquanto maior consumidor do mundo desses produtos.
Os primeiros dados indicam forte crescimento na produção e na importação e descontrole do país sobre esse fenômeno, que é economicamente positivo, mas que preocupa pelo impacto ambiental e pela relação com a saúde pública mundial.
“Muitos produtos entram no país registrados na categoria de ‘outros’. A regularização está ocorrendo agora e vai mostrar dados surpreendentes”, afirma o professor Victor Pelaez, líder do grupo de dez pesquisadores que trabalha no programa, do Departamento de Economia.
Sem códigos específicos, não é possível medir a entrada de cada formulado, aponta. O estudo recorreu ao banco de dados de comércio das Nações Unidas, o Comtrade, para aferir estatísticas gerais.
O trabalho foi encomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão do Ministério da Saúde – um dos três controladores dos agrotóxicos no país, ao lado dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente.
Pressão
A Anvisa alega sofrer forte pressão para liberação de novos produtos e contra a revisão de 14 registros. Com os primeiros resultados da pesquisa em mãos, o diretor da agência, José Álvares, pediu maior comprometimento da indústria.
O Brasil ampliou a produção e está entre os cinco maiores importadores de agrotóxicos. Gasta cerca de US$ 3,5 bilhões por ano no exterior só com produtos técnicos e formulados. Esse valor vem se multiplicando nesta década.
Dependendo do critério de análise, a participação brasileira vai de 5% a 16% do mercado internacional. Esses índices abrangem a produção nacional, que também cresce a passos largos, com investimentos milionários das multinacionais em fábricas e pesquisas dentro do país.
Os estudos da UFPR devem se tornar permanentes a partir de agora. Uma das questões que os pesquisadores vão tentar desvendar é o impacto do mercado de registros no setor. “Quando uma empresa consegue registrar um produto no Brasil, suas ações sobem”, frisa Pelaez.
Ele afirma que esse estudo é essencial para que o país avalie sua atuação na liberação de novos produtos. A pressa das indústrias, relacionada à necessidade dos produtores de adotar as tecnologias mais eficientes disponíveis, também tem seu lado financeiro, observa.
Outro lado
As indústrias preferem discutir o assunto através das organizações que representam o setor. Os números não diferem muito dos apresentados pela UFPR.
Contratada pela Associação Nacional de Defesa Vegetal, a Andef, a consultoria alemã Kleffmann Group concluiu ano passado que o país gastou US$ 7,1 bilhões na compra de agrotóxicos em 2008 – US$ 600 milhões a mais que os Estados Unidos, primeiro colocado até 2007.
Para a Andef, é preciso relativizar a liderança. Se for considerado o consumo por hectare, o Brasil ainda usa menos agrotóxicos que o Japão, onde os produtores gastam até dez vezes mais com defensivos agrícolas em áreas de tamanhos similares.
O Sindicato Nacional da Indústria para a Defesa Agrícola (Sindag) informa que, em 2009, o gasto com defensivos caiu 7% no Brasil, para US$ 6,6 bilhões. No entanto, em volume, houve aumento de 7,6%, de 986 mil para 1,06 milhão de toneladas.
Os técnicos das indústrias argumentam que, por ser um país tropical, com uma diversidade agroclimática bem maior que a dos outros importantes produtores agrícolas, o Brasil precisa de mais agrotóxicos para controlar insetos, fungos e ervas daninhas.
“O aumento da produtividade verificado no país só vem sendo alcançado graças às novas tecnologias, que incluem o uso de defensivos mais eficientes”, disse um agrônomo que atua no Paraná e no Cerrado, e preferiu não se identificar. Na safra passada, o crescimento foi de 1,6 quilos de agrotóxicos por hectare, para 22,3 kg/ha.
(Gazeta do Povo, MST, 13/05/2010)