Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento recordaram na Organização das Nações Unidas que podem desaparecer do mapa se nada for feito para deter o avanço da mudança climática. Este alerta foi dado por seus representantes junto à Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável, cuja reunião de duas semanas em Nova York terminará amanhã.
“É preciso vontade política e planos de ação nacional, mais do que dinheiro”, disse à IPS o diretor-geral do Ministério da Habitação, do Transporte e do Meio Ambiente das Maldivas, Amjad Abdullah. Ao ser consultado se a ameaça da mudança climática dispararia um êxodo em seu país, respondeu: “É nosso direito desfrutar de onde estamos”.
A reunião da Comissão acontece cinco anos depois da “Estratégia de Maurício para a posterior execução do Programa de Ação para o desenvolvimento sustentável dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento” e 18 anos após a adoção da Agenda 21, na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro, em 1992. Em entrevista coletiva no dia 10, os delegados junto à Comissão analisaram os defeitos e voltaram a atenção para a plena implementação da Estratégia.
Abdullah disse que os pequenos Estados insulares em desenvolvimento fizeram sua parte, mas que os sócios do mundo industrializado foram mais lentos na hora de colocar em prática os planos de redução de carbono. Na mesma entrevista, o embaixador Colin Beck, representante permanente das Ilhas Salomão na ONU, observou que “o processo de avaliação encontrou novas tendências e questões que surgiram nos últimos cinco anos e que dão muita ênfase à nossa capacidade limitada”.
Segundo Beck, há vários temas novos que não estavam previstos quando se negociou a Estratégia. Entre eles, as crises alimentar e energética e, naturalmente, a causada pela mudança climática. Beck também disse que a Comissão faz o máximo possível. “Certamente avançamos na área da energia. Alguns Estados já anunciaram que são neutros em matéria de carbono. O desafio que temos pela frente é fazer com que os mecanismos funcionem efetivamente para nós”, acrescentou.
Uma ação imediata significa garantir a implementação potencializada da Estratégia de Maurício, que identifica as necessidades especiais dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e também que haja uma disposição que garanta a esses países o acesso a financiamento, disse Beck. Também enfatizou suas esperanças de que haja “um resultado efetivo e ambicioso” na 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16), que acontecerá entre 29 de novembro e 10 de dezembro em Cancún, no México.
Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento esperam que nessa oportunidade se chegue a acordos vinculantes para limitar as emissões de carbono. Esses países são muito vulneráveis à mudança climática, ao aumento do nível do mar e às modificações dos padrões meteorológicos. Maldivas, pequeno arquipélago no Oceano Índico, tem 80% de sua superfície a um metro, ou menos, de altitude. Consciente do perigo que isto representa, tem um plano para ficar neutra em matéria de carbono no prazo de dez anos.
“Isto tem mais a ver com intenções e liderança do que com dinheiro, e é isso que queremos mostrar ao mundo, para reduzir os gases-estufa. Embora nossa cota seja ínfima, queremos mostrar ao mundo que estamos educando com o exemplo”, disse Abdullah. Lamentavelmente, os países sócios não assumiram o mesmo compromisso e, se continuar a tendência de alta das emissões de gases contaminantes, países como Maldivas provavelmente desaparecerão.
Em todo o mundo, são cerca de 50 pequenos Estados insulares em desenvolvimento, cuja fragilidade foi testada com o impacto das crises financeira, alimentar e energética, bem como com devastadores terremotos, tsunamis e tempestades tropicais. A Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável tem pela frente o desafio de garantir que as vidas e os meios de sustento dos que moram nesses países não estejam em risco devido às suas vulnerabilidades geográficas. A Assembleia Geral da ONU fará em setembro uma reunião de alto nível para avaliar a implementação da Estratégia de Maurício. IPS/Envolverde
(Por Jennie Lorentsson, IPS / Envolverde, 13/5/2010)