A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou hoje, véspera do encerramento de sua 48ª Assembleia Geral, em Brasília, uma Declaração sobre o momento político nacional, no qual incentiva os cidadãos a escolher, nas próximas eleições, "pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana". O documento encoraja os eleitores a superar possíveis desencantos com a política. Referindo-se ao projeto de lei conhecido como "Ficha Limpa", os bispos dizem esperar que ele "seja um instrumento a mais para sanar o grave problema da corrupção na vida política brasileira".
Embora não conste do texto, fica implícito que a Igreja não apoia candidatos que defendem a legalização do aborto e outros pontos incluídos no Programa Nacional de Direitos Humanos. "Além da descriminalização do aborto, há outras distorções inaceitáveis, como a união, dita casamento, de pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças por pessoas unidas por relação homoafetiva e a proibição de símbolos religiosos (em repartições públicas)", disse o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer.
O cardeal salientou que a oposição a essas propostas não significa resistência da Igreja aos Direitos Humanos. No caso do Programa Nacional de Direitos Humanos, acrescentou, é que "querem fazer passar por direitos universais o que é pretensão de grupos".
A declaração dos bispos sobre a política afirma que "o Brasil está vivendo um momento importante, por seu crescimento interno e pelo lugar de destaque que vem merecendo no cenário internacional", mas adverte que "isso aumenta sua responsabilidade no relacionamento com as outras nações e na superação progressiva de suas desigualdades sociais, produzidas pela iníquia distribuição da renda, que ainda persiste".
Sem citar a hidrelétrica de Belo Monte, que d. Odilo mencionou ao explicar o texto, a declaração diz que os bispos se preocupam com a execução dos grandes projetos, "sobretudo na Amazônia, sem levar devidamente em conta suas consequências sociais e ambientais".
Para a CNBB, permanece também "o desafio de uma autêntica reforma agrária, acompanhada de política agrícola que contemple especialmente os pequenos produtores rurais, como fator de equilíbrio social".
(Por JOSÉ MARIA MAYRINK, Agência Estado, 13/05/2010)