As 100 melhores companhias do mundo avaliadas pelo estudo "TEEB - A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" apresentaram preocupação com a biodiversidade e os ecossistemas em seus relatórios, mas não comprovavam essa informação na sua documentação financeira.
A informação foi dada por Pavan Sukhdev, representante da UNEP [United Nations Environment Programme], do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), durante em evento de apresentação dos resultados do TEEB, voltados ao setor dos negócios, na manhã de ontem.
De acordo com ele, nove em cada 10 das melhores companhias analisadas disseram que a biodiversidade e os ecossistemas eram tema estratégico em suas políticas. Porém, nos relatórios financeiros dessas empresas, apenas duas indicaram o tema como parte de uma estratégia.
"É preciso ter relatórios integrados, com uma forma mais honesta de produzi-los. Um único relatório deveria ser feito, com capital humano, investimentos em caridade, capital natural, e todos os números negativos e positivos a serem apresentados", afirmou.
Para Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra-Amazônia Brasileira e um dos organizadores do pré-lançamento do estudo, somente o pagamento por serviços ambientais é uma medida manca, já que hoje falta estrutura da contabilidade das empresas para a cobrança dos impactos negativos da sua atividade.
Ele lembrou que, desde 2003, a Constituição Federal brasileira prevê, em seus princípios de ordem econômica, a diferenciação de produtos e serviços, de acordo com os seus impactos ambientais. No entanto, segundo o ambientalista, ainda há resistência de empresas de capital aberto à criação de critérios para a divulgação de ativos e passivos ambientais de suas atividades econômicas."Há uma conjuntura de cartelização contra a inovação, afirmou".
Sukhdev defendeu o apoio dos governos para que empresas trabalhem com auditorias e padrões. Já Smeraldi acredita que a mudança deve ser impulsionada pelo próprio mercado. "As políticas públicas podem intervir nisso, mas é mais interessante o mercado se regular independente da lei. As empresas devem buscar esse diferencial na sua contabilidade para alcançar competitividade", afirmou o ambientalista.
O presidente da Sabesp, Gesner de Oliveira, participou do evento e deu exemplos de ações que a empresa de saneamento desenvolve para incluir os impactos que causa ao meio ambiente nos custos de sua atividade. "Hoje não queremos vender água, mas a inteligência do consumo sustentável e racional da água", disse.
A Sabesp atualmente concede incentivos de preço para consumidores que economizem água e firmou um contrato de 30 anos, para proteção de nascentes e recuperação de matas ciliares na cidade de Botucatu (SP). "Temos múltiplas ações empresariais para biodiversidade, mas falta uma estratégia e é preciso a integração dessas iniciativas à prestação de contas".
Medir e gerenciar os impactos
Segundo o representante da UNEP, medir os impactos ambientais de uma empresa é avaliar os serviços ambientais que ela utiliza para desenvolver sua atividade, e elaborar relatórios, dando indicadores desse desempenho aos apoiadores do projeto. "É avaliar quanto de uma área de floresta você usa para mineração, por exemplo".
Ele diz que, na maioria das vezes, falta transparência nos relatórios que indicam a performance das empresas. "Eles apresentam uma obra de caridade que foi feita, como a construção de um hospital, mas não indicam o que estão perdendo com o uso da floresta. É preciso uma metodologia geral e padrões para a elaboração desses relatórios", afirmou.
O representante da UNEP disse esperar que as empresas sejam líderes na promoção de impactos positivos ao meio ambiente, com investimentos em educação, mitigação de danos ambientais, e restauração de bens da natureza.
(Por Fabíola Munhoz, Amazonia.org.br, 12/05/2010)