Na contramão das comemorações que marcam o Bicentenário da Revolução de Maio na Argentina, povos indígenas preparam uma "Marcha Nacional Indígena: caminho ao Qhapaq Ñan". A ideia é que os indígenas saiam de suas comunidades na próxima quarta-feira (12) e cheguem a Buenos Aires no dia 20 deste mês.
Os indígenas se dividirão em três blocos, de acordo com a localização de cada comunidade, e marcharão até a Plaza de Mayo, na capital argentina, onde realizarão um ato público demandando dos poderes legislativo e executivo mais visibilidade. A expectativa é que aproximadamente 15 mil indígenas de mais de 30 nações originárias participem da mobilização.
O objetivo é demandar do Governo argentino reparações nos campos: econômico, cultural, educacional e territorial. De acordo com Documento Fundacional da Marcha, já são 200 anos de vida republicana na Argentina e também dois séculos de desprezo, invisibilidade e exclusão da diversidade cultural no país.
"Esta exclusão se reflete com a aparição pública de nossa imagem em épocas pré-eleitorais ou em festivais folclóricos, ou em casos de notícias trágicas, onde somos vítimas de enfermidades e pestes de outra época", revelam no documento.
Para os indígenas, a transformação dessa realidade será conseguida através de uma sociedade pluralista e democrática. E, na opinião deles, não poderia haver época melhor para demandar essa mudança político-cultural do que no período de festejos do bicentenário argentino.
"O Bicentenário deve ser a oportunidade histórica para gerar o ato de reivindicação que as nações originárias esperam no silêncio de seus montes, cordilheiras, estepes, vales e montanhas. Um silêncio que tem sido interrompido pelo troar de motosserras que tudo desmonta, o rugido de topadoras [espécie de máquina escavadora] e explosivos das mineiras que tudo voa; a entrada de petroleiras que tudo envenena; a penetração de igrejas e seitas que a todos converte; partidos políticos e ofertas eleitorais que quebram toda a unidade comunitária", destaca.
Por conta disso, no "Pacto do Estado com os Povos Originários para a criação de um Estado Plurinacional", os indígenas demandam do Estado argentino reparações territorial, cultural, educativa, ambiental e econômica. Entre as demandas estão: regulamentação e aplicação do Direito à Consulta; mensuração e titulação dos territórios comunitários; reconhecimento das línguas indígenas como idiomas oficiais da Argentina; e declaração da Água como recurso sagrado.
Blocos
Os povos indígenas serão divididos em três blocos e sairão em marcha rumo à capital argentina na próxima quarta-feira. No primeiro, as comunidades Qom-Toba, Wichies e Mocoví percorrerão as províncias de Misiones, Formosa, Corrientes, Chaco, Santa Fe - onde se juntarão a outro grupo - e seguirão até chegar a Buenos Aires.
O segundo bloco será formado pelos povos: Kolla, Atacamas, Omaguacas Guaraní e Diaguita. Estes passarão por Quiaca, Jujuy, Salta, Tucumán, Santiago del Estero, Santa Fe - onde se encontrarão com o primeiro grupo - e, juntos, caminharão até Buenos Aires.
Já o terceiro bloco será composto pelas nações do Sul. São elas: Mapuche e Huarpes, as quais percorrerão Rio Negro, Neuquén e várias cidades litorâneas até encontrar os outros dois na capital argentina.
Mais informações: http://marchanacionalindigena.blogspot.com
(Guia Global, 11/05/2010)