Estar nas reciclagens, longe das ruas e com atividades ligadas à cidadania, como alfabetização, canto, dança e terapias, não significa deixar de ser estigmatizado. A presidente da associação Consolação, Elisete da Silva Rosa, lamenta o fato de ainda existir discriminação. Por isso, os líderes das cooperativas dizem que é preciso pensar não apenas no bolso, mas também na autoestima.
Elisete se emociona ao lembrar de quando foi chamada de lixeira nas ruas. Articulada, a mulher, que já trabalhou como costureira, cozinheira e artesã, sempre pede aos colegas para não abaixarem a cabeça.
Uma das pioneiras nas associações de recicladores de Caxias, Eva Guedes da Silva, 40, tem na ponta da língua a resposta se valeu a pena deixar o trabalho como operadora de prensa, em 1997, para fundar uma entidade ligada à separação de materiais recicláveis, a Interbairros, no bairro Vila Maestra:
– Me tornei uma pessoa melhor.
Ao entrar na associação, Eva percebeu que precisava se especializar. Retomou os estudos e concluiu o ensino médio. Depois, fez um curso de técnico em contabilidade à noite.
O respeito e a solidariedade que Eva conseguiu no trabalho como recicladora se amplia para sua família. A filha Jéssica trabalha como secretária e estuda Administração de Empresas na UCS. Além disso, a jovem de 19 anos aprendeu com a mãe que é preciso ajudar. Dois dias por semana ela dá aula de alfabetização a integrantes da Interlagos.
Com a montagem de parcerias, as associações conseguem projetos para reforçar a autoestima. Um dos exemplos ocorre no bairro Consolação. A cada 15 dias, um estagiário de psicologia visita a cooperativa para conversar com os associados.
– As conversas passam muito pelo fato de entender a situação deles e planejar um futuro melhor – destaca o acadêmico de psicologia Gilson Bavaresco, 27.
(O Pioneiro, 11/05/2010)