O cálculo é simples. Se todas as 11 associações de recicladores de Caxias tiverem uma esteira para a seleção mais eficiente dos resíduos sólidos, o volume de material separado aumentará no mínimo o dobro. Essa é a maior reivindicação dos associados das cooperativas. Eles acreditam que com mais agilidade na separação do material as dezenas de vagas para recicladores não preenchidas voltarão a ser ocupadas. E o mais importante, o trabalho acelerado será transformado em mais dinheiro no bolso dos associados e em menos lixo seletivo desperdiçado. Atualmente, 15% das 70 toneladas de lixo seletivo recolhidas por dia em Caxias não são aproveitadas nas cooperativas por falta de lugar para estocagem e consequente deterioração dos resíduos.
O sonho de consumo das recicladoras de lixo está em fase de licitação pela prefeitura. A promessa é de que no dia 19 de maio seja aberto o edital para a compra. O executivo deve adquirir oito equipamentos para as associações, em um investimento de R$ 200 mil, e dois serão conseguidos por meio de parcerias. O outro equipamento está disponibilizado pela Companhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca) de forma experimental, desde agosto de 2009, à associação do bairro Consolação. A cooperativa era a que mais enfrentava dificuldades para seguir funcionando. Não fosse a colocação do equipamento, estaria fechada, admite a presidente, Elisete da Silva Rosa, 49 anos.
Além das esteiras, a prefeitura prevê investimentos na estrutura dos pavilhões das recicladoras. Muito material tem se perdido justamente por ficar exposto ao tempo. Molhado, não tem como ser separado, perde o valor comercial e precisa ser recolhido pela Codeca e enviado ao aterro.
– Ao melhorar a infraestrutura das associações, temos certeza de que o trabalho renderá mais e a autoestima do pessoal crescerá – destaca o secretário de Desenvolvimento Econômico (SDE) do município, Guilherme Sebben.
O encarregado pelo Departamento de Limpeza Urbana da Codeca, Douglas Leal, atua há oito anos com as associações. Ele entende que o trabalho evoluiu, mas deve ser aprimorado.
– Sem dúvida, com a colocação das esteiras haverá uma ampliação nos resultados. Mas ainda é preciso fazer um trabalho de infraestrutura para manter as pessoas nas associações – destaca.
Conforme Douglas, com o volume de lixo seletivo produzido na cidade, o projeto de ampliação da área dos contêineres, que chegará à terceira fase ainda neste mês, e a maior conscientização da comunidade sobre a separação correta dos resíduos haverá espaço para mais cooperativas.
– Temos possibilidade de ter pelo menos mais 10 associações – acredita Douglas.
Além das 11 cooperativas em funcionamento na cidade, a Codeca mantém parcerias com 25 empresas, chamadas de apoiadoras. Depois de preencher requisitos como lugar apropriado para acondicionar os materiais, ter pelo menos seis pessoas trabalhando e um acesso adequado para os caminhões da Codeca, os apoiadores podem se cadastrar a receber lixo seletivo sem qualquer custo.
Ótimo exemplo no Serrano
A associação de recicladores do bairro Serrano serve de modelo às demais cooperativas. Mas é exceção. São 24 associados que, além de garantir renda mensal entre R$ 800 e R$ 1 mil, conseguem que direitos como INSS, fundo de reserva (equivalente ao 13º) e férias sejam pagos, fato incomum em se tratando das cooperativas. Além disso, são concedidos benefícios como vale-gás, vale-farmácia e adiantamentos salariais.
Se o sonho da esteira for feito, o tesoureiro da entidade, Odilo Wilmsen, 64 anos, acredita que o turno da noite poderá ser reativado.
– Nossa meta é abrir mais 24 vagas – entusiasma-se Odilo, agricultor que deixou o Paraná há uma década para trabalhar com reciclagem em Caxias.
Ao contrário de outras associações visitadas pelo Pioneiro, o trabalho no Serrano está em ritmo acelerado.
– Estamos com um aproveitamento de 70% do material reciclado, mas projetamos aumentar – destaca Odilo.
Todos os dias ele recebe pedidos de pessoas interessadas em trabalhar, porém, por enquanto, mais vagas não podem ser abertas.
35% de desperdício
Na edição de ontem, o Pioneiro mostrou que Das 410 toneladas de resíduos recolhidos diariamente pela Codeca nas lixeiras da cidade, pelo menos 145 toneladas (equivalente a 35%) poderiam ser reaproveitados, mas acabam no aterro sanitário.
Números no país
Segundo estimativa do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), associação paulista sem fins lucrativos, cerca de 1 milhão de pessoas recolhem materiais recicláveis no Brasil, entre autônomos e cooperativados. Em 2001, eram 200 mil pessoas.
(Por Daniel Corrêa, O Pioneiro, 11/05/2010)