Em uma audiência pública na semana passada, requerida pelo deputado Edson Duarte (PV-BA) para debater a instalação de usinas nucleares no nordeste, o Greenpeace desarmou o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro da Silva, e o diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Laércio Vinhas, com argumentos contundentes contra essa fonte.
O coordenador da campanha de energia nuclear do Greenpeace, André Amaral, incomodou os representantes do Cnen e da Eletronuclear, que tiveram suas defesas desmontadas com dados. Amaral mostrou que a energia nuclear não só é cara e insegura como também é uma relevante emissora de CO2, um dos principais gases do efeito estufa, que levam ao aquecimento global.
Enquanto uma turbina eólica gera no máximo 30 gramas de CO2 por kilowatt/hora, a emissão de uma usina nuclear pode chegar até 400 gramas por kilowatt/hora. Amaral ainda mostrou que o argumento econômico é favorável à energia eólica, que custa R$ 150 por megawatt/hora – o custo da energia nuclear, por sua vez, é de R$ 240 megawatt/hora.
Além dos argumentos científicos, Amaral também escancarou a falta de transparência que a indústria nuclear brasileira prega com tanto afinco e reclamou da proibição ao acesso da população a documentos relacionados ao assunto. "Tudo que tem relação com energia nuclear não tem transparência", disse Amaral.
Irritado, Pinheiro da Silva rebateu a crítica com um ataque inócuo e desinformado. O presidente da Eletronuclear acusou o Greenpeace de não expor quem são seus financiadores. Com um compromisso ético com a sociedade e colaboradores, a verdade é que não só o Greenpeace publica anualmente os recebimentos e gastos da instituição no site como também conta com uma auditoria para certificar os números.
Assim como Amaral, o deputado Edson Duarte também lamentou a falta de transparência do setor nuclear. "Temos dificuldades em conseguir informações. Isso muitas vezes nos impede de dar respostas às dúvidas da população." Para o deputado, a obscuridade do setor nuclear atinge inclusive o Cnen – órgão que deveria ser um canal importante da sociedade com o setor. "Como considerar o Cnen uma comissão nacional se ele possui apenas um representante da sociedade civil, que ainda por cima é indicado pelo governo?", questionou Duarte. "Não podemos ser negligentes na questão nuclear. Isso poderá ter um preço muito alto. É uma área em que não temos o direito de errar."
Jogo político
Como não poderia deixar de ser, o forte lobby do setor nuclear deu o ar da graça na audiência. Durante parte da sessão, o chefe de gabinete da presidência da Eletronuclear, Leonam Guimarães, ficou ao lado do ex-líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), soprando comentários que minutos mais tarde ditariam o tom do discurso do deputado.
(Greenpeace Brasil, 10/05/2010)