A audiência pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados para discutir a instalação de usinas nucleares no Nordeste brasileiro deixou os ânimos dos representantes do governo e dos ambientalistas exaltados.
O governo federal pretende instalar seis novas usinas nucleares na região. Os locais ainda não foram definidos, mas, segundo a Eletronuclear, empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, os estados com potencial são Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O anúncio dos locais deve ocorrer até 2011.
O presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, disse que a demanda por energia no Brasil tende a aumentar e que as novas usinas, apesar do alto investimento, tem custo energético baixo. “Para suprir a demanda nacional teríamos que disponibilizar 3 a 4 mil megawatts ao ano, isto significa uma nova Itaipu a cada 3-4 anos. Temos que contar com todas as fontes energéticas: a eólica, a biomassa e, é claro, a nuclear”.
O professor do Departamento de Engenharia Elétrica e presidente da comissão de Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco, Heitor Scalambrini, criticou a ausência da participação da sociedade na definição da construção de novas usinas nucleares no país e lembrou que o Programa Nuclear no Brasil surgiu durante a ditadura militar.
“A energia nuclear, pelo poder devastador, deveria ser debatida amplamente. Não há benefícios econômicos, ambientais ou em termos de segurança”, disse.
O assessor do Movimento Paulo Jackson da Bahia, Sérgio Dialetachi, lembrou as 6,5 mil pessoas contaminadas pelo Césio 137 em Goiânia, em 1987 e disse que não se pode esquecer que o Césio é produto da usina nuclear.
“Quando acidentes acontecem qual é a infraestrutura que temos? Queremos que o Brasil faça a sua diversificação energética, mas que a nuclear esteja fora”, salientou
O coordenador da Campanha Nuclear do Greenpeace Brasil, André Amaral, disse que a instalação de usinas nucleares é resquício do regime militar e que o Brasil não precisa desta tecnologia.
“Não precisamos de energia nuclear, o país tem potencial imenso de energia eólica e solar. Estaremos na contra-mão da crise climática. O uso da energia nuclear está decaindo no mundo inteiro em relação às renováveis”, afirmou.
(Por Lisiane Wandscheer, Agência Brasil, 06/05/2010)