O cacique Raoni, da tribo dos Caiapós, se encontrou nesta quinta-feira em Paris com o ex-presidente francês Jacques Chirac para buscar apoio para impedir a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará.
Chirac, que criou uma fundação que atua também na área ambiental, com projetos de combate ao desmatamento, assina o prefácio do livro Raoni - Memórias de um chefe indígena, do cineasta e escritor Jean-Pierre Dutilleux, lançado na segunda-feira na França.
O cacique já havia declarado em Paris que também pediria ao atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, para impedir que o presidente Lula construa a usina de Belo Monte.
Mas o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, não confirmou até o momento o encontro.
Guerra
Raoni se tornou mundialmente famoso em 1989 após receber o apoio do cantor Sting para a proteção da floresta amazônica.
A imprensa francesa tem dado destaque para a visita de Raoni. Em entrevistas no país, o cacique declarou "estar pronto para declarar guerra contra a construção da barragem de Belo Monte".
"Vamos matar os brancos que construírem a barragem", disse o cacique em uma entrevista ao canal de TV TF1.
"Desde sempre, impeço meu povo de guerrear, mas estou muito preocupado e inquieto agora", afirmou.
Segundo Raoni, "três mil guerreiros estão preparados para pegar as armas, mas esperam para ver se é possível negociar antes".
"Fui enviado por todos os índios Caiapós para obter apoio e recursos para proteger a floresta", afirmou Raoni em Paris.
Opinião pública
Raoni também buscará, nos próximos dias, apoio de personalidades europeias em Luxemburgo e Mônaco, onde deve se reunir com o príncipe Albert na próxima semana.
Ele diz que o objetivo de sua viagem também é o de alertar a opinião pública mundial sobre as consequências ambientais da construção da barragem no Rio Xingu, que deve inundar uma área de 500 km².
Após 20 anos de disputas judiciais, a Justiça Federal brasileira deu o sinal verde para a construção da barragem, que deve entrar em funcionamento em 2015.
A Belo Monte deverá ser a terceira maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, após a de Três Gargantas, na China, e de Itaipu, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.
(O Globo, 06/05/2010)