Os quatro pacotes de telhas onduladas estão prontas para a viagem. Vendo-as assim, parecem ser de três metros por dois, empacotadas dentro de um embrulho de celofane especial, um grosso pacote de presente branco: um pouco torto, já que comprimir as folhas de amianto uma sobre a outras não é exatamente um hino à geometria. Há pouco, borrifaram em cima delas um adesivo vermelho, para evitar a dispersão das fibras assassinas.
"Esse pacote vai para Pomezia", o único lugar de estocagem temporâneo do Lácio, na Itália, diz Paolo, 41 anos, ex-operário de construção, hoje caçador de amianto. Macacão, lucas, máscara. Permanecerão ali por poucos dias. Depois, vão ir embora com o caminhão, para a Alemanha ou a França. "Lá, tornam o amianto inerte e o reciclam – explica Davide Savelloni, proprietário da Assa, a empresa romana especializada na remoção de amianto. Fazem estradas com ele. Na Itália, ele é no máximo enterrado nos poucos aterros adaptados. Mas os custos são altos. E recaem sobre os bolsos do cidadão. Quando apresentamos as medidas preventivas, muitos renunciam".
A remoção começou assim. Roma, condomínio da rua Fleming. Cento e quarenta metros quadrados de telhas a serem removidas. "Vê aquele telhado vermelho lá em cima? É de Eternit. Vê a chaminé? É de amianto. E debaixo daquele forro, vê a caixa d'água? Adivinhe. Amianto". Vão levar tudo embora.
A Itália, dados da CNR, "afunda" ainda dentro de 32 milhões de toneladas de materiais que contêm amianto. Quinhentos quilos por habitante. Dois bilhões e meio de metros quadrados de telhados de Eternit. Imaginem uma cidade de 60 mil habitantes feita só de amianto. Uma selva de bilhões de fibras que, até que não sejam exterminadas, custos e impedimentos burocráticos permitindo – aqui está a questão –, continuarão sendo uma bomba em contagem regressiva sobre a Itália.
E enquanto isso, os mortos do amianto crescem: 3.000 vítimas a cada ano por doenças correlacionadas à exposição ao mineral. Mil e duzentos casos de mesotelioma, uma forma letal de câncer, para o qual até agora não foi encontrada uma cura. Bem-vindos ao país que não consegue ou não quer liquidar todo o amianto que, até 1992, se espalhou por todos os lugares. Nos navios, nos trens, nas fábricas, nas casas, nos ginásios. Até entre as escolas e os asilos. De Bagnoli a Monfalcone, um nome indelével. Mas quem se ocupa da purificação e da remoção? Por que, a quase 20 anos da sua proibição, é tão complicado desativar o amianto?
Quem "doma" a Besta
Há alguns anos, existem os purificadores da Besta. Eles passam os dias sobre os telhados: macacão branco de Tyvek [tecido impermeável], luvas amarelas, máscara. Se não estão passeando pelos forros com velhas folhas onduladas debaixo do braço, você pode os encontrar nas garagens, nas escolas, nos refeitórios das empresas. Ou trabalhando diante de alguma caldeira ou descendo nos vãos dos elevadores. Operários especializados no empacotamento e na remoção de amianto e de manufaturados perigosos.
"Há amianto por todo o lugar – conta Paolo, na direção do seu caminhão. Ele foi usado nos telhados, nas caixas d'água, nos encanamentos, nas caldeiras, nas chaminés. Uma vez, uma senhora nos chamou, pois, depois de 20 anos, havia se dado conta que o exaustor da cozinha era feito completamente de amianto. Em um laboratório escolar, removemos maquinários nos quais os estudantes trabalhavam. O amianto se encontra até borrifado atrás dos rebocos dos apartamentos dos anos 60, para isolar os ambientes".
Cinco funcionários, uma média de três intervenções por semana, é na Assa que o nosso caçador trabalha. O seu olho encontra amianto em quase todos os lugares. Ele conta como funciona. Os procedimentos de remoção são longos e laboriosos. O cidadão chama, faz-se um plano de trabalho, mandam-se à ASL fragmentos de material suspeito de conter amianto. Depois de 40 dias, inicia a remoção. Após bloquear as fibras com o adesivo borrifado, as peças onduladas são carregadas no caminho, embaladas e levadas embora. "Lidamos com o amianto todos os dias, mas o INPS não nos insere entre os trabalhadores de risco. Somos comparados a trabalhadores da construção".
O faroeste das tarifas
Mas quanto custa remover o amianto? É o cidadão quem paga? Quais são os incentivos do Estado? O tarifário é um faroeste em escala regional. O preço varia de acordo com o tipo de intervenção, mas principalmente do lugar, como demonstra um dossiê da Legambiente [associação de meio ambiente italiana]. No Lácio, livrar-se de uma cobertura de Eternit de 10 metros quadrados custa 250 euros, mais os custos fixos (de 500 a 1.000 euros).
"As pessoas não estão informadas – diz Savelloni –, esperam pagar um centavo de euro por um trabalho. Mas os custos são altos, e muitos deixam de lado. Nesse ritmo, para purificar o Lácio serão necessários 60 anos".
A remoção da mesma chapa de amianto custa muito menos na Sardenha, quase quatro descarregamentos: em média 260 euros. Outros preços: 640 euros em Abruzzo, 300 no Piemonte, 2.000 em Puglia, onde o preço é fixo para qualquer superfície removida inferior a 25 metros quadrados. E não só. O custo final depende também dos incentivos regionais. Em Abruzzo, para as remoções de coberturas de até 30 metros quadrados, o governo oferece uma contribuição de 70%. Na Sardenha, para os privados, há incentivos de 40% do preço até um máximo de 5.000 euros.
Existem financiamentos também para as entidades públicas que removem o amianto. A Emília Romana concede uma dedução de 36% do imposto de renda se a reestruturação da casa custar até 48 mil euros. No Lácio e na Toscana, ao invés, não existem incentivos. Stefano Ciafani, responsável científico da Legambiente, é direto: "Essa incerteza e a falta de contribuições por parte dos governos regionais são o primeiro obstáculo para uma remoção difundida em nível local".
"Temos medo"
Pode-se quase tocar com a mão no imobilismo político de Crescenzago, primeira periferia de Milão. Chamam-nas de "casas brancas" ou "casas mínimas". São 117 apartamentos para uma família com jardim. Foram construídos nos anos 50, e hoje 300 pessoas os habitam. Todos de amianto: telhados, corredores, isolamento. Lajotas e telhas se desintegraram com os anos. Quanto tem vento, as fibras de amianto voam. Ao lado das casas: um asilo, uma escola, um parque.
"Desde o ano 2000 pedimos à prefeitura, ao proprietário, que intervenham – critica Luca Prini, conselheiro da região. Prometeram que logo iniciaria a remoção, mas aqui as pessoas estão quase resignadas". Idosos, famílias com filhos pequenos. Todos nos acolhem na porta com o ar de quem está cansado de falar para as paredes: "Temos medo". Mostram os tetos rachados, as fissuras nas telhas. Os tumores estão aumentando, superiores à média da cidade. Para Beniamino Pianteri, da associação ChiamaMilano, é "uma vergonha para Milão, cujas administrações lavam as mãos há muito tempo".
A fábrica dos tumores
Os habitantes das "casas mínimas" nunca estarão sozinhos. Mas não é questão de apoio. É que estão em péssima companhia. Na Lombardia dos 2,7 milhões de metros cúbicos de amianto espalhados em 4.228 edifícios públicos, em 24 mil edifícios privados e em milhares de outros lugares, está a cidade de Broni, em Oltrepo Pavese.
Broni é igual a Fibronit, que é igual a amianto desde os anos 30. A 16 anos do seu fechamento, a fábrica, 15 hectares no meio da região, é um lugar sombrio, cheio de amianto. Os pavilhões abandonados, repletos de veneno. Trinta e oito mortes por mesotelioma de 2000 a 2006: operários, mas também pessoas que moravam ao redor da fábrica que se tornou lugar de interesse nacional. Porém, a remoção ainda não começou. "Culpa da burocracia", diz o prefeito Luigi Paroni.
Espera-se do governo regional a luz verde para começar as medidas de segurança. São necessários 25 milhões de euros. Até agora, existem só cinco. "Queremos transformar a cidade do amianto na cidade do sol", sonha Mario Fugazza, secretário de meio ambiente, referindo-se aos maravilhosos painéis fotovoltaicos. Restos imóveis debaixo do hangar da ex-Fibronit, na entrada dos pavilhões sem portas. Olhando as lonas laceradas, as profundidades e os interstícios poluídos do monstro, pensa-se que é preciso muita fantasia.
Culpados por traição
Broni, Casale Monferrato, Monfalcone, La Spezia, Genova, Bari, Taranto, Bagnoli. As cidades do câncer. Cada uma com o seu relatório. Com as suas cruzes. "Expostos de segunda geração". "Expostos ambientais". Segunda geração porque aqueles da "primeira", no afundamento lento mas inexorável do mesotelioma, já foram levados ou estão na lista de espera do amianto.
Os da "segunda geração" são aqueles que respiraram as fibras assassinas sem saber do perigo. Culpados por traição. Não os marinheiros. Não os ferroviários. Não os operários das "fábricas da morte". Desses, todos sabiam. E também eles sabiam. Alguns, não todos, haviam se dado conta que iriam morrer assim, arrancados por aquele pó sutilíssimo que penetra nos pulmões e depois de 20-25 anos desencadeia o inferno. É um veneno 1.300 vezes mais fino do que um cabelo. Que ainda vive no corpo esquecido da Besta.
Mas quem são os "novos expostos"? Como fizeram para adoecer? "Estão surgindo milhares de histórias que se referem às mais disparatadas categorias profissionais – diz Alessandro Marinaccio, responsável do Registro Nacional dos mesoteliomas junto ao Instituto Superior para a Prevenção e a Segurança do Trabalho. São situações ainda mais dramáticas, porque quem adoece não tinha nenhum tipo de consciência, acreditavam ter trabalhado ou vivido em um ambiente 'sadio'".
As novas vítimas são os trabalhadores comuns. Os ignorantes da exposição "ambiental". Não trabalhavam diretamente com o amianto, mas o amianto estava – e, em muitos casos, ainda está – ali onde ganhavam para viver. Ou onde viviam e vivem. Nas telhas, nos pavilhões, nos caminhos, nas caixas d'água, nos isolamentos selvagens que deveriam ser levados embora e sepultados e, ao invés disso, estão sempre ali, com o gatilho apertado.
Agora, a Besta apresenta o seu lado mais tenebroso. Enquanto se aproxima o pico dos tumores previsto entre 2015 e 2020 (o período de latência do mesotelioma chega até 40 anos), são descobertas as novas histórias.
"As mulheres que lavavam os macacões dos marinheiros operários, aquelas que costuravam os sacos de juta onde se transportava o amianto – afirma Vittorio Agnoletto, médico do trabalho e ex-parlamentar – ou quem respirou as fibras porque tinha o amianto debaixo da casa: quem ressarce esses doentes? Há 50 milhões destinados às vítimas (30 do governo Prodi de 2008 e outros 20 do governo Berlusconi em 2009), mas até agora não foram utilizados".
O decreto que falta
Como é possível que as famílias vejam os seus doentes morrer, e o Estado não intervenha? "Parece absurdo, mas o problema é que falta o decreto de atuação. E na ausência do decreto, o fundo não existe". A fibra mineral pode lhe matar mesmo que você trabalhasse em uma refinaria de açúcar, em uma indústria de vidro, em uma empresa aurífera. Mesmo que você fosse ascensorista, enólogo ou se limpava os telhados dos pavilhões.
Como o pai de Lorena Tacco, de Paderno Dugnano. Chamava-se Vladimiro. "Era guarda de uma empresa. O apartamento que lhe deram tinha as janelas voltadas para um telhado de amianto. Durante 30 anos, ele limpou aquele telhado. Tirava as agulhas de pinheiro que se enfiavam nas canaletas de escoamento. Aos 75 anos, descobriu que tinha um tumor". Antes de fechar os olhos, com o último sopro de voz, Vladimiro Tacco disse à filha: "Conte a minha história para todos. O que aconteceu comigo não deve acontecer com os outros".
No tribunal
Esse é o amianto. Muito já é trágica literatura. As empresas Eternit, Fibronit e Fincantieri com as suas "spoon river". Os pulmões moídos dos 600 militares da Marinha (processo em Padova, oito almirantes em julgamento). Os 210 mil ferroviários em atividade em 1991 (o ano seguinte ao qual, para o INAIL [Instituto Nacional de Seguro contra Acidentes de Trabalho, na sigla em italiano], o risco de amianto desapareceu) e que agora fazem súplicas, porque entre eles a média do mesotelioma é seis vezes a da população.
Nos anos 70, vagões e locomotivas, assim como os navios militares, se enchiam de amianto. "O plano de retirada do isolamento iniciado em 1995 se referia a 11 mil vagões. Ainda existem 400 com resíduos, jogados em qualquer depósito", lembra Beniamino Didda, hoje procurador geral em Florença, que há 30 anos instrui processos sobre o amianto, de trens a canteiros navais.
O tumor plêurico é um pesadelo para os marinheiros que navegavam ou trabalhavam nos navios a motor construídos antes dos anos 90. Alessio Anselmi, presidente do Cocer da Marinha [entidade que representa os militares]: "O amianto ainda está presente só em uma classe de fragatas, 15% da frota, e em algumas estruturas da Marinha. Para removê-lo, são necessários 10 milhões de euros".
Em todo o lugar, a mesma história.
(Por Paolo Berizzi e Fabio Tonacci, La Repubblica / IHUnisinos, com tradução de Moisés Sbardelotto, 01/05/2010)