As mobilizações dos indígenas por um Estado Plurinacional e pela defesa da água não param no Equador. Ontem (5), após a forte repressão sofrida na noite passada, os manifestantes resolveram radicalizar os protestos em Quito. Nesta manhã, eles se concentraram no parque El Arbolito para continuar as ações contra a Lei de Águas. Comunicado de hoje da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI) revela também que alguns dirigentes indígenas estão na Assembleia Nacional e temem ser desalojados a qualquer momento.
Segundo informações da Confederação Kichwa do Equador (Ecuarunari), a decisão foi uma reação à forte repressão sofrida ontem à noite nas imediações da Assembleia Nacional, que resultou em vários feridos, asfixiados e um detido. A ação é ainda uma resposta à negativa dada ontem pelo Legislativo de discutir a Lei das Águas.
Milhares de indígenas estão em Quito desde ontem para exigir a análise dos "nós críticos" da Lei Orgânica de Recursos Hídricos, Uso e Aproveitamento da Água. As manifestações e repressões também se estendem a outras localidades do país. De acordo com comunicado divulgado ontem pela CAOI, os indígenas equatorianos permanecerão em vigília até o cumprimento das demandas em relação à nova Lei de Recursos Hídricos.
Na convocatória à Mobilização Plurinacional, os indígenas pedem, entre outros pontos: a desprivatização da água; a construção da soberania alimentar; a implementação de uma "Revolução Agrária integral"; e o respeito e a restituição dos direitos trabalhistas estabelecidos no Direito Internacional.
"Que no debate e na aprovação do projeto de Lei de Águas, a Assembleia Nacional assuma de maneira decidida a desprivatização e a redistribuição equitativa dos Recursos Hídricos e instaure uma nova institucionalidade a partir da plurinacionalidade e da participação democrática", demandam.
Não é por acaso que a desprivatização da água está entre as principais exigências dos povos indígenas equatorianos. Segundo a convocatória, o monopólio de água ainda é uma realidade presente no país e é a "causa direta do atual conflito social no campo e na cidade".
Para ilustrar, os indígenas revelam que, nos últimos 20 anos, somente 1% dos grandes proprietários possuíam 67% da água de irrigação. Enquanto isso, 86% dos produtores (a maioria pequenos produtores), ficavam com 23% da água. "Se a isto somarmos as concessões para as hidroelétricas, mineração ou para simples especulação de mercado da água, temos que 75% dos recursos hídricos estão em mãos privadas", ressalta a convocatória.
Ações em outros locais
Os protestos dos indígenas não acontecem somente na capital equatoriana. Informações de Confederações indígenas do Equador revelam que as mobilizações se estendem a outras regiões do país. Em Azuay, por exemplo, três indígenas foram detidos ontem enquanto participavam de manifestações pelas leis de água e mineração.
As mobilizações também seguiram com bloqueios de estradas nas zonas de: San Lucas, San Vicente, La Ramada, Tarqui, e Giron. Nas províncias de Zamora Chinchipe, Cañar e Chimborazo, os manifestantes continuavam, até ontem à noite, em Assembleias para discutir ações que serão realizadas hoje em apoio às mobilizações que ocorrem em Quito.
(Adital, 06/05/2010)