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hidrelétrica de belo monte direitos indígenas
2010-05-06 | Tatianaf

O cacique Raoni, chefe dos caiapós, pediu nesta quarta-feira em Paris dos dirigentes europeus com os quais se reunirá na França, Luxemburgo e Mônaco apoio para preservar o pulmão do planeta, ameaçado pela construção da represa de Belo Monte.

"Fui enviado por todos os índios da região Caiapó para obter recursos para proteger a selva", afirmou à AFP Raoni Metukire, que representa os 6.300 membros do povo caiapó, que habita a selva do Pará, acompanhado pelo escritor francês Jean Pierre Dutilleux, co-autor de "Raoni, memórias de um chefe indígena".

O chefe Raoni será recebido nesta quinta-feira pelo ex-presidente francês Jacques Chirac (1995-2007), que escreveu o prefácio do livro e com quem teve vários encontros desde 1989, quando foi pela primeira vez à Europa para lançar uma campanha em defesa dos povos indígenas da Amazônia.

Na época, a fotografia do chefe Raoni, com seu cocar de plumas amarelas e seu disco labial de madeira de 20 cm de diâmetro, junto com o cantor britânico Sting deu a volta ao mundo.

Aquela campanha foi um êxito, pois permitiu delimitar as fronteiras da reserva de 195.000 km2 --seis vezes a superfície da Bélgica-- atravessada pelo rio Xingu.

Vinte anos depois, à ameaça dos garimpeiros e do desmatamento soma-se "uma nova ameaça: a represa de Belo Monte", autorizada pelo governo brasileiro, explica Dutilleux.

Belo Monte, que deverá ser a partir de 2015 a terceira maior hidrelétrica do mundo atrás de Três Gargantas, na China, e de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai, é um projeto de 11 bilhões de dólares que produzirá até 11.000 MW de energia.

Seus críticos -- cerca de 60 ONGs-- consideram que Belo Monte inundará uma área de 500 km2. Os caiapós dizem que a represa afeta mais de 20.000 pessoas que vivem na região.

E o presidente Lula? "Conversei muito com ele para que não construa a represa", respondeu o chefe Raoni ao ser perguntado sobre se compreendia os motivos que levaram o presidente brasileiro a aprovar esse projeto.

"Não sei por que faz isso", acrescentou o cacique vestido com uma calça e sem camisa, com o dorso e os braços pintados de negro, um sinal de guerra.

"Por isso gostaria que eles (os governantes com os quais se reunirá na Europa) ligassem para ele para manifestar a crescente preocupação do índios com a construção dessa represa", respondeu o chefe Raoni.

Dutilleux, que descreve em seu livro o "oceano verde de florestas primárias" que descobriu em 1973 quando viajou pela primeira vez para a Amazônia, assegura que a represa de Belo Monte "é a ponta do iceberg" das 220 represas previstas para a região até 2030.

Raoni, que se descreve como um homem de paz, disse ao chegar a Paris que pediu a seus "guerreiros que se preparem" ante a ameaça da represa.

"Estou preocupado e não sei por quanto tempo poderei controlá-los (...) Por isso vim à Europa para tentar negociar (...) para evitar uma situação dramática", explicou Raoni sem elevar o tom de voz, enquanto um membro de seu povo presente no local assegurava que "3.000 guerreiros caiapós estão preparados para lutar".

Embora os organizadores da visita do chefe Raoni organizem uma reunião com o presidente francês Nicolas Sarkozy, citado no livro durante um encontro com o cacique em Brasília em setembro de 2009, fontes da Presidência indicaram à imprensa que não há encontro algum agendado.

Segundo o livro, naquele dia Sarkozy disse a Raoni: "Vou a ajudá-lo. Quando vier a Paris, vou recebê-lo".

O chefe Raoni jantará com o presidente da Renault, o brasileiro Carlos Goshn, e se reunirá com a vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

Depois de visitar outras cidades da França, viajará para Luxemburgo e na terça-feira se reunirá em Mônaco com o príncipe Albert, presidente de uma fundação dedicada à defesa do meio ambiente.

Raoni, que tem por volta de 75 anos, se apresenta como o "último grande cacique dos caiapós". O chefe se diz preocupado com sua sucessão, mas nesta quarta-feira, pela primeira vez nesta viagem, manifestou sua "esperança".

"No centro da reserva há índios que não têm contato com ninguém e creio que entre eles haverá algum grande guerreiro" que também terá o disco labial de madeira, símbolo daqueles que estão dispostos a defender a terra com sua própria vida.

(Por Gabriela Calotti, AFP, 05/05/2010)


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