O presidente da Vale, Roger Agnelli, revelou que a empresa não foi convidada para participar do consórcio vencedor do leilão de Belo Monte, mas afirmou que teria interesse em participar do empreendimento como autoprodutor, caso pudesse adquirir energia a R$ 77 o megawatt-hora, preço vencedor do certame no mês passado. A Vale integrava o consórcio que foi derrotado no leilão.
"A gente já fez o que tinha que fazer em Belo Monte. Se formos convidados, vamos estudar as condições (que forem apresentadas)", disse Agnelli, confirmando que a companhia tem interesse em analisar outros projetos hidrelétricos que venham a ser leiloados.
Questionado sobre a possibilidade de a Vale participar dos certames de hidrelétricas no rio Tapajós, o executivo lembrou que as unidades teriam a vantagem de ficar perto de regiões onde a mineradora tem operações.
"O que vier de licitação hídrica, vamos olhar", assegurou. "A Vale é a maior consumidora de energia do Brasil e quanto mais energia tivermos, melhor para nós e para o Brasil", acrescentou.
Ontem, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) destacou que cinco hidrelétricas deverão ser licitadas no Tapajós até 2014, com potência instalada total de 4.774 MW.
Agnelli confirmou que o interesse da empresa em projetos é entrar como autoprodutor e revelou que a companhia tem que preencher uma necessidade de fornecimento ainda em aberto para o período de 2015 e 2016. Segundo o presidente, a expectativa é de que melhorias ligadas à eficiência energética supram parte da necessidade.
Quem também negocia para entrar em Belo Monte são os fundos de pensão Petros, da Petrobras, e Funcef, da Caixa Econômica Federal. Representantes dos dois fundos e do consórcio vencedor do leilão tiveram uma reunião ontem, onde foram analisados os aspectos técnicos da proposta para entrada na sociedade.
O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, destacou que a decisão sobre a entrada no consórcio não tem prazo para acontecer, embora não possa se alongar indefinidamente.
Já Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, revelou que ainda não está definida se a participação do fundo dos funcionários da Caixa, caso confirmada, se dará diretamente ou através da Cevix, empresa em sociedade com a Engevix, criada para investimentos na área de energia.
Pinheiro chegou a fazer uma veemente defesa de Belo Monte e criticou as recentes declarações do diretor de cinema James Cameron contra a usina.
"Para divulgar os filmes deles, vêm para cá dizer que a gente não pode fazer Belo Monte. Quando eles tiverem a floresta por habitante que o Brasil tem, eles podem voltar para falar de Belo Monte", disse, em crítica à postura de países desenvolvidos. "Cuidamos da floresta desde sempre, e eles desde nunca", acrescentou.
(Rafael Rosas, Valor Online, 05/05/2010)