Ainda hoje, a infância e a construção da cidadania de milhares de crianças e adolescentes de todo o mundo são comprometidas pelo trabalho infantil. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apenas na América Latina foram registrados cerca de 17 milhões de pequenos trabalhadores com idade entre cinco e 17 anos.
A entrada precoce no mundo do trabalho retira de várias crianças e adolescentes a possibilidade de crescer e se desenvolver de forma saudável, de ter lazer, de se socializar com outros da mesma idade e também de estudar. De cada quatro pequenos trabalhadores, três abandonam a escola e os que persistem apresentam baixo rendimento e não conseguem acompanhar as aulas.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008, mais de 4 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalham no Brasil. Na região Nordeste, foi registrado queda de 13,4% para 12,3% de 2007 para 2008. O Estado de Pernambuco também seguiu a mesma tendência de diminuição e tem hoje uma das menores taxas do Nordeste (10,6%), mesmo assim ainda luta contra a problemática.
Na tentativa de continuar reduzindo este número e de sensibilizar crianças e adolescentes para os malefícios causados pelo trabalho infantil, o Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) realiza desde junho de 2009, em Recife, capital pernambucana, o projeto "Do Trabalho Infantil à Participação".
As ações são realizadas por um grupo de dez jovens que passaram pela experiência do trabalho infantil e hoje atuam como educadoras explicando porque a exploração do trabalho infantil é prejudicial. As educadoras conscientizam e sensibilizam utilizando a experiência de quem já passou pelo problema e conseguiu superar.
Paralelamente, um grupo, constituído por 25 adolescentes que também enfrentaram o trabalho infantil, monitora as políticas públicas do município para verificar se o governo está trabalhando efetivamente para erradicar a problemática. Os jovens também participam de oficinas temáticas e realizam atividades voltadas para a área da comunicação.
"Desde que teve início, há quase um ano, o projeto já conseguiu atingir uma grande quantidade de pessoas. Mais de 600 crianças e adolescentes já participaram das oficinas e receberam formação. A atuação das educadoras é muito forte e está trazendo resultados positivos nas ações realizadas em escolas públicas e nos núcleos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil", esclarece Karla Ribeiro, coordenadora do projeto.
As oficinas são realizadas pelas educadoras em salas de aula respeitando a faixa etária dos grupos. Na oportunidade, são exibidos vídeos sobre a temática, distribuído material informativo e debatidos assuntos como direitos da criança e do adolescente, malefícios do trabalho infantil, outras alternativas, mitos e verdades, entre outros.
"Queremos que as pessoas fiquem ligadas nas ações e reivindiquem iniciativas para erradicar o trabalho infantil. Este problema ainda é muito preocupante, por isso não podemos deixar que muitas pessoas continuem achando que o trabalho infantil é normal", pontua Karla.
Até junho, quando o projeto será encerrado, mais de 200 crianças e adolescentes devem ser capacitados e orientados. A expectativa é ultrapassar a meta de 800 pessoas atingidas pela iniciativa "Do Trabalho Infantil à Participação".
Conferência Nacional de Trabalho Decente
O pré-lançamento da Conferência Nacional de Trabalho Decente foi iniciado hoje, em Brasília, e segue até a quarta-feira (6). Na ocasião, o tema trabalho infantil estará em debate juntamente com assuntos como avanços e desafios para a geração de mais e melhores empregos e erradicação do trabalho escravo.
(Adital / Envolverde, 04/05/2010)