Após sofrer com a crise, que levou a celulose a ser cotada abaixo de US$ 500 em maio de 2009, a commodity teve período de recuperação graças ao aumento da demanda chinesa e à redução de produção no Chile e no Hemisfério Norte. Um ano depois, o produto registra novos níveis históricos de preço. As "gigantes" nacionais do setor, Fibria e Suzano, já cobram R$ 892 pela tonelada de celulose desde a última segunda-feira.
Segundo Bruno Rezende, analista da consultoria Tendências, a recuperação foi em "V": o setor saiu de um patamar alto – em junho de 2008, a celulose de fibra curta atingiu o recorde de US$ 840 –, atingiu o "fundo do poço" e agora aponta nova máxima. E o analista vê espaço para aumentos marginais na celulose nos próximos meses: "O produto deve bater US$ 920 e fechar o ano próximo de US$ 890."
Especialmente por causa da China, a demanda de celulose deve seguir forte. Segundo Rezende, o Brasil tem vantagens no setor, como espaço para plantio de florestas, parque fabril moderno e mão de obra relativamente barata. Mas o principal diferencial está no clima: no Brasil, a madeira de eucalipto pode ser colhida em ciclos de seis anos, enquanto no Hemisfério Norte o crescimento das árvores geralmente leva o dobro do tempo.
Setor em alta
A forte procura faz com que os clientes internacionais fiquem de olho na "celulose futura" do Brasil. Segundo o diretor executivo de celulose da Suzano, Alexandre Yambanis, a empresa já negocia volumes das fábricas que planeja abrir em 2013 e 2014. "Os clientes fazem a reserva do volume. O preço será definido depois", explica o executivo.
A alta dos preços reduziu a capacidade ociosa da indústria nacional. No primeiro trimestre, segundo dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), a produção de celulose de fibra curta cresceu 15% no Brasil, enquanto as exportações subiram quase 20%. O faturamento de mais de US$ 1,1 bilhão com as vendas externas superou em 41% o resultado de igual período de 2009.
Entretanto, a Bracelpa descarta um crescimento significativo da produção nacional no curto prazo. No momento, segundo a presidente da entidade, Elizabeth de Carvalhaes, o mercado já retoma os projetos que estavam parados, o que é "positivo" para o momento. Como o ciclo de investimentos do segmento é longo, pois depende da compra de terrenos e do período de crescimento das árvores, especialistas dizem que as fábricas que saírem da gaveta em 2010 só poderão funcionar em oito anos.
O investimento da vice-líder Suzano nas unidades a serem inauguradas a partir de 2013 começou há três anos. Segundo Alexandre Yambanis, as duas novas fábricas aumentarão a capacidade de produção da empresa em 2,5 milhões de toneladas de celulose. Hoje, a companhia opera a quase 100% da capacidade de 1,8 milhão de toneladas do produto.
O último grande projeto inaugurado no País foi a unidade da Fibria em Três Lagoas (MS), em março de 2009. A fábrica era um projeto da antiga Votorantim Celulose e Papel (VCP), que se uniu à Aracruz no fim do ano passado. Para Leonardo Alves, da Link Investimentos, o alto endividamento – calculado em R$ 14,7 bilhões no fim de 2009 – pode prejudicar novos investimentos da líder do setor no Brasil.
(Por Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo, 04/05/2010)