A coleta da água da chuva através de cisternas já é conhecida de tempos bíblicos. Desenvolvida pelos povos árabes e pelos povos africanos, ambos vivendo em condições de escassez de água, foi introduzida na Europa pelas invasões dos mouros que dominaram por séculos o sul da Espanha.
É uma medida simples, que apenas operacionaliza a coleta da água da chuva nos telhados, através de um sistema de calhas e direciona esta água para um reservatório para uso posterior.
As águas da chuva que não são coletadas, além de serem desperdiçadas, causam enchentes e alagamentos nos sistemas de coleta pluvial ou misto para onde são destinadas. É um duplo problema, se deixa de usar uma água de excelentes condições físico-químicas, que pode ser usada para várias atividades e ainda se contribui para enchentes, alagamentos, inundações e grandes acidentes em temporais.
As águas, principalmente quando são originadas por chuvas, precisam de terrenos não impermeabilizados para que possam se infiltrar no solo onde são um nutriente essencial e através do solo atingir os aqüíferos (que são acumulações de água dentro de rochas). Tanto fez que sejam aqüíferos primários (em rochas sedimentares) ou secundários (em rochas ígneas e também metamórficas).
Existem já em algumas cidades a obrigatoriedade nas aprovações de projeto de construções de casas e edifícios, para manutenção de um percentual significativo de superfície de terreno sem impermeabilização para que as águas possam se infiltrar nos solos e rochas e não sofrer escoamento superficial que leva as águas a acabar nos sistemas de drenagem pluvial ou misto indo para os rios.
A fiscalização destes procedimentos ocorre apenas na emissão do HABITE-SE e depois não ocorre mais. E frequentemente ocorre a impermeabilização daquela fração destinada a se manter livre de calçamentos ou outras formas que impeçam a infiltração das águas. Isto garante o equilíbrio dos recursos hídricos dentro da unidade de gerenciamento, geralmente a bacia hidrográfica.
Talvez tenham que ser criados mecanismos de fiscalização permanentes para garantir esta área livre de impermeabilização, mas sem os ranços, dificuldades e burocracias que muitas vezes obstaculizam a vida do cidadão e das empresas.
São apenas duas sugestões de extrema simplicidade e até singeleza: construção de cisternas em casas e edifícios para coleta e utilização de águas de chuvas, e manutenção de áreas livres de impermeabilização, para permitir a infiltração de águas em solos e rochas e evitar o excesso de escoamento superficial, que causa alagamentos e problemas.
As grandes idéias são simples. Não é preciso inventar a roda, que já foi inventada. Talvez no máximo aperfeiçoar e tornar melhor a circunferência.
No caso das águas, a definição através de legislação destas medidas simples, e a conscientização dos cidadãos para a aplicabilidade da medida como um item de sustentabilidade inadiável poderia resolver muitos problemas de forma simples e a um custo muito baixo.
Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é articulista do EcoDebate.
(EcoDebate, 04/05/2010)