O mundo está para perder outro prazo. Em 2010, deveria ter havido uma “redução significativa” da velocidade com a qual as formas de vida estão desaparecendo. Tanto a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, de 2000, demandam isso.
Mas a maior análise [Global Biodiversity: Indicators of Recent Declines, Science, DOI: 10.1126/science.1187512] da biodiversidade global já feita descobriu que não é isso o que está acontecendo — apesar daqueles que parecem ser esforços governamentais maciços. Reportagem da New Scientist.
Brasil descumpre meta para ambiente
Nunca se produziu antes uma medida padronizada da biodiversidade entre os milhares de habitats da Terra. Cientistas da CBD criaram 31 esquemas de acompanhamento da perda de espécies, ecossistemas ou variantes genéticas em mamíferos, criaturas marinhas, aves e outras grandes categorias. Nesta semana, pela primeira vez, eles juntaram todos esses indicadores.
“Eles fornecem evidência plena de que o mundo natural está sendo destruído mais depressa do que nunca”, disse Stuart Butchart, do Centro de Monitoramento da Conservação das Nações Unidas, em Cambridge (Reino Unido), autor principal do estudo. A análise será parte do Panorama Global da Biodiversidade 3, a ser publicado pela convenção no mês que vem.
O levantamento mostra que as espécies, de algas marinhas a mamíferos, caiu no geral desde 1970. Enquanto isso, as pressões sobre a biodiversidade, da sobrepesca às espécies invasoras, cresceu.
Infelizmente, não foi por falta de tentativa. O relatório, publicado ontem na edição on-line do periódico “Science”, também mostra que os esforços dos governos para cumprir a promessa de 2010 aumentaram exponencialmente desde 1970.
Mas claramente não produziram muito resultado. O problema, diz Butchart, é que, embora haja uma miríade de planos no papel, “eles têm sido orientados, financiados e implementados de forma inadequada”. Há, por exemplo, muitas áreas protegidas, mas elas não receberam dinheiro suficiente e não estão nas áreas mais importantes do ponto de vista biológico. Mais de 80% dos governos prometeram atacar o problema das espécies invasoras, mas menos da metade deles fez realmente algo.
Com mais US$ 4 bilhões por ano, segundo uma estimativa, seria possível tirar as áreas protegidas do papel, afirmou o autor.
As 193 nações que pertencem à Convenção da Biodiversidade se reúnem em outubro em Nagoya, Japão, e deverão usar a análise para orientar novas ações. “2010 não será o ano em que as perdas foram detidas”, diz Butchart, “mas deve ser o ano em que os governos começaram a levar o assunto a sério”.
(EcoDebate, 04/05/2010)