Aprendemos na escola que água e óleo não se misturam. Mas experimente agitar um copo com os dois elementos para ter uma ideia de como pode ser difícil retirar o petróleo derramado do mar, como no acidente do Golfo do México.
“Petróleos são menos densos que a água, por isso flutuam na forma de filmes na superfície e se espalham. A agitação do mar contribui para a formação de uma emulsão muito difícil de ser removida”, explica o professor e pesquisador Divinomar Severino, que participa de um projeto no Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar/USP), em São Sebastião, para avaliar o efeito da contaminação por petróleo em peixes. Reportagem do UOL Notícias.
Severino ensina que petróleos são pouco solúveis em água, mas a pequena parte solúvel é muito tóxica. “É potencialmente cancerígena e atrapalha o processo de crescimento, ovulação e desenvolvimento dos animais marinhos a curto e longo prazo.”
A temperatura da região do acidente também conta – quanto mais quente, pior. “O petróleo é negro porque absorve toda luz solar visível. E absorve também a luz ultravioleta”, descreve. Isso aumenta a solubilidade, aquece o óleo e contribui para maior evaporação, elevando muito a toxicidade da fração solúvel em água, segundo ele.
Estudos indicam que os efeitos tóxicos de uma maré negra podem durar até mais de um ano, de acordo com a composição do bioma. Sem contar o período de recolonização, que é bem mais longo. Entre os animais ameaçados pelo acidente no Golfo do México estão a baleia cachalote e o atum azul, espécie em alto risco de extinção que se reproduz naquele local.
Como ressalta a coordenadora da campanha de oceanos do grupo ambiental Greenpeace Leandra Gonçalves, um vazamento de óleo não é algo que se limpe. “Até hoje é possível encontrar traços do acidente com o navio da Exxon Valdez no Alasca, em 1989”, comenta.
Acidentes como o atual, de acordo com o Greenpeace, desmontam a alegação das empresas de petróleo de que já existem as mais variadas tecnologias para a contenção de vazamentos. E reforçam a importância do investimento em energias limpas, como a solar. “Mas o Brasil, em vez disso, está investindo na exploração do pré-sal”, critica a coordenadora.
(EcoDebate, 04/05/2010)