A Vale S.A., que no domingo passado anunciou a transferência de seus ativos da área de alumínio para a multinacional norueguesa Norsk Hydro, informou ontem que está, por enquanto, suspenso o projeto de construção de uma usina termelétrica no município de Barcarena. O empreendimento teve sua licença prévia expedida pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado no final de outubro de 2008. Orçada em US$ 898 milhões, a termelétrica tinha entrada prevista em operação para o ano que vem.
A informação foi dada ontem, em Belém, pelo diretor de alumínio da Vale, Ricardo Carvalho. “O que sei é que esse projeto está suspenso no momento. Não tenho maiores informações porque esta não é a minha área”, acrescentou. O diretor da Vale descartou, porém, qualquer possibilidade de suspensão do projeto de instalação da Companhia de Alumina do Pará (CAP), também em Barcarena, empreendimento que classificou como estratégico para a Hydro. O que se está fazendo agora, conforme frisou, é uma reavaliação das condições de mercado para possível ajuste de cronograma.
Ricardo Carvalho confirmou a transferência de ativos da área de alumínio da Vale para a Hydro, fechando negociações que vinham sendo conduzidas em sigilo há cerca de seis meses. A transação, segundo ele, está calculada em valor próximo a US$ 5 bilhões e não vai trazer qualquer prejuízo para a indústria extrativa e de transformação mineral do alumínio já em operação no Pará.
O diretor da Vale garantiu também que não há o menor risco de demissões. Todos os empregados da Albrás e da Alunorte serão mantidos no emprego, inclusive com direito à manutenção dos benefícios a que têm direito os empregados do grupo Vale, incluindo planos de saúde e de previdência privada.
Segundo Ricardo Carvalho, a transferência de ativos da Vale para a Hydro vai resultar numa empresa muito equilibrada, forte e competitiva, mantendo a Vale uma presença sólida no mercado de bauxita e alumina e a Hydro no mercado de alumínio primário, produtos acabados e de alta tecnologia. “O importante é que essa parceria vai de A a Z na cadeia do alumínio”, enfatizou.
Ao justificar a operação, ele disse que a Vale sempre busca aproveitar as melhores opções e oportunidades para o crescimento de seus negócios em todas as áreas. No caso do alumínio, assinalou, a empresa tem vocação muito forte para a produção de bauxita e alumina, nos quais ela dispõe de recursos e também de conhecimentos. “O problema é que nós temos limitação para o crescimento da produção de alumínio primário, já que falta no Brasil energia a preço competitivo”, aduziu.
Prova disso, conforme frisou, é que a produção brasileira de alumínio primário tem se mantido estável nos últimos dez anos, período em que foram fechadas inclusive algumas plantas industriais. “Nós somos grandes exportadores de alumina, mas a produção de alumínio não cresce há uma década”. Nem a hidrelétrica de Belo Monte, projetada para o rio Xingu, poderá fornecer energia competitiva para a indústria de alumínio. “A energia elétrica tem um custo muito pesado no Brasil devido a um conjunto de fatores. Entre eles, os impostos, taxas e encargos que oneram as tarifas”, finalizou.
Governo acena com diálogo e maior industrialização
A relação entre a Vale e o Governo do Estado não vai sofrer o menor abalo por conta da transferência dos seus ativos da área de alumínio, feita pela Vale para uma multinacional norueguesa. A declaração foi feita ontem pelo secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Maurílio Monteiro, que foi comunicado da decisão anteontem, por Ricardo Carvalho, e a levou ao conhecimento da governadora Ana Júlia Carepa.
Segundo o secretário, há dois padrões de comportamento para as empresas, especialmente as da área de mineração, para a valorização de seus ativos e proteção do capital contra as oscilações naturais do mercado. Um desses padrões é a diversificação de commodities, de tal sorte que, em eventual queda de uma, possa ser a perda compensada pela elevação de outra. “A formação de um conjunto de commodities normalmente deixa a empresa mais protegida para receber impactos”, aduziu.
PADRÃO
Esse é, segundo ele, o padrão adotado pela Vale, que, já ocupando a posição de segunda maior mineradora do mundo, tem como estratégia a ampliação de seus nichos de negócios através da diversificação de commodities para alcançar o topo do ranking mundial. Já a Hydro, agora parceira da Vale, adota o segundo padrão, que consiste em avançar para além das commodities até o estágio da indústria de transformação. Oferecendo ao mercado produtos acabados e de alta tecnologia, com maior valor agregado, as empresas que adotam esse padrão estão menos sujeitas às oscilações de preços no mercado internacional.
Segundo Maurílio Monteiro, o Governo do Estado, por orientação da governadora Ana Júlia, vai estabelecer com a Hydro o mesmo diálogo que sempre manteve com a Vale objetivando a verticalização da cadeia mineral no Estado. Como exemplo, ele citou o caso da Aços Laminados do Pará, siderúrgica já em fase de implantação pela Vale no município de Marabá e que vai produzir, em sua primeira fase, 2,5 milhões de toneladas de aço por ano.
O titular da Sedect citou ainda o caso da hidrelétrica de Belo Monte, projeto no qual o Governo do Estado pleiteou a destinação de 20% do volume total de energia para os auto-produtores. No leilão, conforme frisou, o percentual ficou reduzido à metade. De qualquer forma, serão cerca de 500 MW, quantitativo com o qual o governo pretende viabilizar a implantação, no Pará, de mais uma fábrica de alumínio, investimento estimado em US$ 1,5 bilhão de dólares e capacidade de produção prevista em 350 mil toneladas/ano de alumínio primário.
(Diário do Pará, 04/05/2010)