A Secretaria Estadual da Saúde estuda a possibilidade de ampliar para caminhoneiros, policiais e estudantes do Ensino Fundamental a vacinação contra a gripe A no Rio Grande do Sul.
A hipótese, que será discutida pelo Comitê Estadual de Enfrentamento da Epidemia de H1N1, na segunda quinzena de maio, tem a simpatia da secretária Arita Bergmann.
São consideráveis as chances de que milhares de vacinas fiquem estocadas nos postos de saúde até o dia 21 de maio, data do encerramento da campanha nacional. No Estado, onde mais de 200 pessoas foram vitimadas pela gripe A no ano passado, a procura pela vacina é baixa. Até ontem, 2,4 milhões de imunizações haviam sido aplicadas – pouco menos da metade das 4,9 milhões de doses disponíveis para os gaúchos. Se foram necessários 49 dias para vacinar 2,4 milhões de pessoas, é pouco provável que em 17 sejam aplicadas 2,5 milhões de doses.
Uma dúvida se impõe: o que fazer com o excedente de vacinas que reduzem as chances de alguém morrer de gripe A?
Para a Arita Bergmann, caminhoneiros que circulam pelo Mercosul, trabalhadores da segurança – como policiais civis, militares, federais e rodoviários – e estudantes do Ensino Fundamental devem ter prioridade.
– Caso sobrem vacinas, vamos debater o assunto no comitê estadual (órgão composto por entidades secretarias, hospitais, universidades, infectologistas, conselhos profissionais). Temos autonomia para tratar com aquilo que sobrar das vacinas – diz Arita.
Na prática, caminhoneiros já foram beneficiados. Pelo menos 3,8 mil que passaram por Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, receberam a dose da vacina.
– É um público que se expõe muito ao risco – complementa a secretária.
Embora cogite a possibilidade de que vacinas encalhem, Arita acredita que a faixa etária da população entre 30 e 39 anos deve protagonizar uma procura maior nos próximos dias – a partir do dia 10 serão imunizados os gaúchos entre 30 anos e 39 anos.
Mesmo que sobrem doses, contudo, é improvável que o acúmulo seja suficiente para imunizar todos os 1,8 milhão de estudantes do Ensino Fundamental, cerca de 25 mil PMs e 5,3 mil policiais civil. Ou seja, além de decidir sobre a ampliação do público-alvo, o conselho terá provavelmente de estabelecer critérios numa eventual distribuição.
O excesso de vacinas pode sugerir que a política do Ministério da Saúde em priorizar determinados grupos na campanha tenha sido acertada. Mas não é o que pensam especialistas consultados por ZH. Para Luciano Goldani, chefe do serviço de infectologia do Hospital de Clínicas, seria necessário uma ação específica para a Região Sul, que contemplasse vacinação em massa:
– Os números de casos da gripe A foram maiores nos Estados do Sul. O Rio Grande do Sul deveria ter um tratamento diferenciado. Da mesma forma que existem políticas diferenciadas para a malária, por exemplo, em outras partes do Brasil.
No Paraná, o Ministério Público Federal obteve na Justiça liminar garantindo vacina à toda a população. Ontem, porém, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) suspendeu a liminar. Medida idêntica chegou a ser proposta ao MPF no Estado, mas procuradores não se convenceram da necessidade.
– Um cidadão ingressou com o pedido, mas achamos bastante razoáveis os critérios do Ministério da Saúde e decidimos arquivar – revela a procuradora Ana Paula Carvalho de Medeiros.
(Por CARLOS ETCHICHURY E MARIA RITA HORN, Zero Hora, 04/05/2010)
*Colaboraram Gustavo Azevedo e Simone Wobeto