Falta bem pouco, cerca de quatro meses, para que a primeira fábrica de polietileno verde do mundo em escala industrial comece a operar. Um ano após o lançamento da pedra fundamental da planta da Braskem que transformará etanol em resina para produtos plásticos, em Triunfo (RS), a perspectiva é de que a obra seja finalizada antes do prazo inicial, outubro deste ano.
Passados 12 meses do início da construção, a Braskem atingiu 81,4% da execução da obra e empregou pouco mais de 2,2 mil trabalhadores ao longo do período. O momento agora é de finalização da montagem das tubulações por onde passará o etanol de cana-de-açúcar que será transformado em eteno e colocará a dupla Brasil-Braskem como protagonista mundial em plástico com matéria-prima 100% renovável. A combinação promete: a Braskem tem a tecnologia do polietileno verde, e o Brasil é potência na produção de cana-de-açúcar.
Com a proximidade do início das operações, o investimento de R$ 500 milhões no Polo de Triunfo desperta cada vez mais interesse no país e no Exterior. De acordo com o diretor de empreendimentos da empresa, Guilherme Guaragna, a Braskem tem recebido diversas consultas, não só para o fornecimento do polietileno, mas também para a construção e a instalação de uma fábrica semelhante a de Triunfo em outros locais:
– Por questão de sigilo, não posso dizer ainda, mas algumas consultas estão em fase bem avançada e existe, sim, uma possibilidade bem significativa de que a gente vá ter uma fábrica semelhante a essa em outro lugar do mundo.
A tecnologia de fazer polietileno a partir de etanol existe há 40 anos, lembra o diretor. A diferença é que a Braskem descobriu como fazer um eteno que possa ser usado como resina para fazer qualquer produto de plástico. Isso faz com que a planta gaúcha seja pioneira no mundo e possa ser modelo para que a Braskem leve a tecnologia do polietileno verde para outros estados e países. A partir da fábrica de Triunfo, a empresa pode construir uma planta exatamente igual em qualquer lugar.
A demanda para isso existe, como comprovam as várias consultas recebidas. Isso porque no Exterior, especialmente na Ásia e na Europa, tem predominado a busca por matéria-prima renovável, e o plástico verde se encaixa perfeitamente nesse conceito. Conta ainda mais pontos o fato de que a cana, de onde vem o etanol, captura o CO2 da atmosfera ao realizar a fotossíntese (veja gráfico na página central). Em vez de emitir dióxido de carbono, a cana captura e já compensa parte do que será emitido até o fim do processo.
No Brasil, a preferência ainda é por material biodegradável. O polietileno verde, no caso, tem matéria-prima 100% renovável, mas não é biodegradável.Entretanto, Guaragna visualiza uma mudança de pensamento e acredita que o país também embarcará na tendência do recurso renovável. Prova disso é que, ao ser lançada, a fábrica de eteno verde tinha somente contratos internacionais, mas, antes do final de 2009, já havia negociações nacionais. O desequilíbrio ainda é grande, porém é significativa a possibilidade de que a indústria brasileira siga o mesmo caminho da europeia e da asiática.
(Por ANNA MARTHA SILVEIRA, Zero Hora, 03/05/2010)