Na primeira fila, está o arquipélago das Chandeleurs, refúgio das andorinhas-do-mar e dos pelicanos, santuário da biodiversidade, região de areia clara que está para ser afogada no óleo. Depois, superado e conquistado o primeiro posto avançado da natureza, a catástrofe negra irá atingir os pântanos da Louisiana, com os crocodilos e os peixes-boi, uma espécie próxima dos golfinhos, que serão cobertos de óleo. A menos que ocorra um milagre, em poucas horas um dos mais importantes ecossistemas norte-americanos irá sofrer um golpe do qual não poderá se recuperar em décadas.
Só a uma semana do primeiro sinal, anunciado em surdina como se fosse pouco mais do que um acidente de rotina, o porte do desastre está se revelando em toda a sua dramaticidade. Enquanto outras sondas estão à espera da luz verde para exportar o risco para a área ártica, começa-se a perfilar um balanço de pesadelo para a Louisiana.
"A onda de óleo que está para se abater na costa dos EUA irá provocar efeitos devastadores. O principal local de pesca dos EUA está em risco", explica Massimiliano Rocco, responsável da WWF para as espécies em risco.
Um dos paraísos da natureza norte-americana está em risco. "Não se esperaria ver arraias nos EUA, porém, ao longo da Louisiana, pode-se fazer achados dignos dos mares tropicais", conta Alberto Luca Recchi, naturalista e documentarista, especialista naqueles mares. "É uma zona de uma beleza incrível. O jogo entre terra e água salgada, nas costas, não deve nada à paisagem do delta do Okawango, um dos mitos das grandes viagens à África. E o mar é extraordinariamente rico de vida. Me dá calafrios pensar que tudo isso corre o risco de ser apagado pelo petróleo".
"Serão necessários 50 anos antes que o ecossistema se recupere da catástrofe", prevê Silvio Greco, especialista do Instituto Superior para a Proteção e a Pesquisa Ambiental (Ispra). "Esse pode ser o maior desastre natural da história norte-americana. Os efeitos do petróleo poderão ser sentidos em todos os níveis, dos micro-organismos dos quais os peixes e os crustáceos se nutrem, até os grandes cetáceos e os pássaros. Muitos das substâncias tóxicas se acumulam assim que se sobe na cadeia alimentar, até chegar aos animais maiores, enquanto aquelas que se depositam no fundo provocam efeitos de longa duração".
Além disso, o desastre não podia acontecer em um momento pior, visto que este é o período em que a maior parte dos animais descansa na região atingida pela maré negra para se reproduzir. Entre as espécies que mais estão em risco está o atum atlântico, já em risco de extinção: ele deposita os ovos nos golfo do México entre a metade de abril e a metade de junho. Também estão em perigo as tartarugas marinhas. O golfo é também uma das regiões de reprodução preferidas pelos tubarões.
Os efeitos da agressão do petróleo serão longos. A ação de contenção mecânica, que tem alguma eficácia só se o mar está relativamente tranquilo, serve para reduzir o impacto da camada oleosa da superfície da água. Mas esse impacto, mesmo que grave, é relativamente breve. Bem mais devastador é o efeito produzido pelo afundamento das substâncias poluidoras que vão se depositar no fundo do mar como um lençol que resiste durante décadas.
(Por Antonio Cianciullo, La Repubblica / IHUnisinos / Envolverde, 01/05/2010)