O presidente uruguaio, José Mujica, pediu hoje uma solução "inteligente" e não "policial" para acabar com o bloqueio da ponte General San Martín, na fronteira com a Argentina, em vigor há cerca de quatro anos. "Não pedimos e nem esperamos saídas [para o fim do bloqueio, ndr.] de caráter policial, porque não pensamos apenas no hoje, mas também no amanhã", disse o presidente, pedindo uma solução política, sem confrontos.
A ponte, que liga a argentina Gualeguaychú à uruguaia Fray Bentos está fechada desde 2006, em protesto à instalação de uma fábrica de pasta de celulose na região da fronteira. Para ambientalistas argentinos, a indústria seria poluente e causaria graves danos à população e ao Rio Uruguai.
Em seu programa radial "Habla el presidente", o mandatário também voltou a defender o total restabelecimento dos laços diplomáticos com o país vizinho, abalados com a divergência ocasionada pela companhia instalada em Fray Bentos.
No início da semana, ele se reuniu pela primeira vez com a argentina Cristina Kirchner, após a sentença da Corte Internacional de Justiça, em Haia, sobre o processo apresentado -- também há quatro anos -- pelo governo argentino contra a fábrica, do grupo finlandês UPM.
O tribunal com sede na Holanda acatou a petição argentina, que alegava que o Uruguai violou um tratado binacional, ao tomar a decisão sobre a UPM (na época Botnia) de forma unilateral.
A Argentina é "o único país em que os uruguaios não se sentem estrangeiros", enfatizou Mujica, reiterando seu pedido por ações "inteligentes", com o objetivo de "melhorar e sustentar uma relação que para todos nós é muito importante".
Por outro lado, membros do governo uruguaio afirmaram hoje que o país não teria a intenção de manifestar apoio ao ex-presidente argentino Néstor Kirchner à sua candidatura para a Secretaria-Geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que será analisada na reunião do grupo, marcada para as próximas segunda e terça-feira.
"Uma possibilidade é abster-se, sem trabalhar na designação de Kirchner, não sendo interpretado como um apoio ou uma negativa à sua candidatura", explicaram fontes diplomáticas à imprensa local.
Tabaré Vázquez, que entregou a presidência do Uruguai a Mujica no dia 1º de março, vetou o apoio do governo a Kirchner justamente por conta do conflito diplomático. Além de estremecer as relações entre as duas nações, o bloqueio da ponte internacional ocasionou sérios prejuízos financeiros aos uruguaios.
Durante sua administração, Vázquez criticou Kirchner, que durante o seu governo, de 2003 a 2007, não impediu a realização do protesto na fronteira. (ANSA)
(Ansa, 01/05/2010)