Os holofotes estavam todos voltados nesta quinta-feira para o gigante de petróleo BP (British Petroleum), objeto de uma queixa apresentada por pescadores da Louisiana (no sul dos Estados Unidos) que veem o litoral do Estado ameaçado pela maré negra derramada por uma plataforma afundada no Golfo do México. A empresa foi declarada "responsável" pelo desastre ecológico pelo governo Obama.
O grupo britânico de petróleo vem sendo citado na justiça desde a noite de quarta-feira por "negligência" e "poluição" por dois criadores de camarões da Louisiana que exigem milhões de dólares de indenização a título de prejuízos e danos, em nome de todas as vítimas econômicas da enorme mancha de óleo que se espalha.
A BP administrava a plataforma de petróleo DeepWater Horizon que naufragou no dia 22 de abril no Golfo do México, após uma explosão na qual desapareceram 11 funcionários. Durante uma entrevista nesta quinta-feira na Casa Branca, a secretária americana de Segurança Interior, Janet Napolitano insistiu sobre a "responsabilidade" do grupo na tragédia. "De acordo com a lei e com o presidente, a BP é responsável e deve financiar o custo com as operações de despoluição", declarou.
O vazamento do petróleo no mar, a uma velocidade de 5.000 barris por dia (800.000 litros), vai provocar uma catástrofe ecológica e econômica em zonas já colocadas duramente à prova pelos furacões Katrina e Rita, estimou David Pellow, professor da Universidade de Minnesota especializado em questões do meio ambiente.
"O que é certo, a partir de agora, é que o meio ambiente e a economia da região do Golfo do México vão ser novamente postos à prova, depois de atingidos de maneira irremediável", afirmou ele à reportagem.
Na queixa à justiça, os criadores de camarões culpam não apenas a BP, mas também a proprietária da estrutura, a Transocean, o fabricante Cameron, e a Halliburton encarregada da consolidação do poço, que também apresentou defeitos.
Ouvido pela reportagem, o advogado que entrou com a queixa, Daniel Becnel, afirmou ter recolhido depoimentos segundo os quais "85% do poço não foi inspecionado corretamente pela agência federal encarregada de conceder a permissão de prospecção (a US Mineral Managements Service)". "Sabemos que a BP e a Transocean não dizem a verdade", acrescentou.
Para David Pellow, a BP fará de tudo para aniquilar qualquer tentativa de obter justiça. Lembrou que as cerca de 30.000 vítimas do Exxon Valdez, no Alasca, aguardaram 20 anos para receber "quase nada", depois de um dos maiores desastres ecológicos da história.
O grupo americano ExxonMobile havia sido, no começo, condenado, em 1994, a pagar 5 bilhões de dólares a título de prejuízo aos moradores da região, o equivalente a um ano de lucros do grupo de petróleo. Mas "seus advogados conseguiram retardar o procedimento", explicou Pellow e, finalmente, a Corte Suprema reduziu em 2008 a soma a 500 milhões de dólares.
(France Presse / Folha Online, 30/04/2010)