Quem nunca viu uma bituca de cigarro no meio da rua? Cerca de 90% dos fumantes não resistem à mania de jogar o resto do cigarro que foi fumado no chão, sem pensar nos danos ao meio ambiente, sob o pretexto de que ninguém pode ficar segurando uma bituca usada enquanto não encontra uma lixeira pública. O problema é mais sério do que se pode supor. Bitucas de cigarro representam uma ameaça séria à natureza.
Um grupo de alunos de Gestão Ambiental da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) resolveu se manifestar contra esse hábito, como parte de um trabalho da disciplina de Educação Ambiental. Os estudantes resolveram protestar contra as bitucas de cigarro em dois pontos da cidade: na praça José Bonifácio, em frente à Catedral de Santo Antonio; e na avenida Carlos Botelho.
Os alunos recolheram as bitucas e as foram colando umas às outras, formando uma espécie de “obra” que deve, inclusive, ser exposta no Salão de Belas Artes de Piracicaba. “As pessoas na praça até pararam para nos ajudar a recolher algumas bitucas, enquanto aqui na avenida, região que conta com muitos bares, o comportamento é outro. As pessoas dão risada”, destaca Juliana Lopes. “Escolhemos esses dois lugares exatamente para mostrar a diferença de comportamento”, assinala Victor Hugo Andrade. O grupo também é formado por Fernanda Veirano, Marine Assahira e Marcela Siqueira e realizará nova intervenção na próxima semana.
Com até 700 aditivos usados em sua fabricação, esses filtros são extremamente prejudiciais à natureza. Dentre as substâncias presentes, podem ser encontradas o arsênio, níquel, benzopireno, resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas para veneno de rato. Com as bitucas descartadas de forma irregular, algumas dessas substâncias podem atingir os lençóis freáticos, contaminando os cursos d’água.
PERIGO. Segundo o Ibama, as pontas de cigarros acesas podem iniciar queimadas e matar os animais que as ingerem. Ensaios laboratoriais mostraram que cigarros incendeiam vegetação como o feno em 33% dos casos. O vento criado pela passagem de veículos trafegando potencializa as chances de uma bituca de cigarroiniciar fogo na beira de uma estrada. As bitucas também entopem bueiros, poluem praias e ficam anos na natureza até elas serem decompostas. Nas praias, as bitucas ameaçam a fauna aquática. No processo de decomposição, microorganismos alimentam-se do material orgânico poluente e consomem o oxigênio dissolvido no meio aquático.
Possibilidade de reciclagem
Um dos estudos mais conhecidos relacionados à reciclagem de cigarro é de um aluno de Biologia da Universidade de Brasília, que desenvolveu projeto de reaproveitamento da ponta dos cigarros fumados. Os professores Thérèse Hofmann e Paulo Suarez orientaram Marco Antônio Barbosa Duarte nas pesquisas, que tiveram como objetivo fazer da bituca matéria-prima para produção de papel reciclado.
O filtro do cigarro e o tabaco fornecem as fibras que dão origem ao papel e as cinzas podem servir de base no processo, segundo a pesquisa que ficou bastante conhecida no meio acadêmico. Segundo a professora Thérèse Hofmann, o rendimento é de quase 100%. Apesar de experiências transformando a bituca em papel, ainda há controvérsias quanto ao fato do item ser considerado ou não reciclável. Os filtros descartados pelas indústrias e não consumidos já são transformados em papel. A Embrapa de Pernambuco recebe as sobras para testar o uso do material na absorção e retenção de água.
NÚMERO
700 aditivos são usados na composição dos filtros
(Por Felipe Rodrigues, Gazeta de Piracicaba, 29/04/2010)