Foi um massacre silencioso o que se consumou nos últimos 30 anos nos canteiros navais de Palermo, na Itália, envolvidos em uma nuvem de amianto. Para o tribunal da capital siciliana, as responsabilidades devem ser atribuídas à gestão dos ex-responsáveis pela Fincantieri [empresa de construção de navios]: o juiz Giuseppe Criscione condenou por homicídio culposo plúrimo e lesões os diretores do estabelecimentos de Palermo, que se alternaram entre 1970 e 1990. Luciano Lemetti foi condenado a sete anos e seis meses, Giuseppe Cortesi a seis anos e Antonino Cipponeri a três. Porém, terão direito a indulto.
Os ex-diretores de Palermo foram também condenados a pagar ao Inail [Instituto Nacional de Seguro contra Acidentes de Trabalho, na sigla em italiano] uma enorme multa de 4,2 milhões de euros, que é só uma antecipação ao ressarcimento que será depois quantificado pelo juiz civil. Outros ressarcimentos foram decididos para as famílias dos operários, para a Fiom Cgil, a Legambiente, para a Medicina Democratica e para a Câmara do Trabalho de Palermo, todas partes civis.
O processo fazia referência à morte de 36 operários e das pesadas doenças de outros 24 funcionários da Fincantieri. A causa teria sido uma só: a inalação das fibras de amianto. O que foi concluído hoje é só o primeiro capítulo da megainvestigação conduzida pelos procuradores substitutos Emanuele Ravaglioli e Carlo Marzella sobre as mortes nos canteiros de Palermo.
Outras quatro investigações, que revelam mais de 50 mortes por tumor, estão prestes a chegar ao tribunal. A Procuradoria também apresenta acusações contra os ex-responsáveis nacionais da empresa. Segundo a reconstrução do ministério público de Palermo, a Fincantieri teria continuado a produção de amianto até 1999, apesar de uma proibição explícita da lei de 1996.
“Desde os anos 50, os riscos do amianto são conhecidos”, rebateram os juízes. “Apesar de tudo isso, a Fincantieri não adotou as medidas mais elementares de prevenção para evitar a inalação do pó e das fibras do amianto”. No estabelecimento, não havia roupas especiais, nem máscaras, nem capacetes de proteção. E nem sistemas de aspiração do pó de amianto.
(Por Salvo Palazzolo, La Repubblica / IHUnisinos, com tradução de Moisés Sbardelotto, 26/04/2010)