Se a energia a ser gerada pela usina de Belo Monte fosse substituída por projetos eólicos, o custo ao país seria 60% maior do que é o previsto para erguer a hidrelétrica no rio Xingu. A conta é do ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que diz que para instalar 14 mil MW de eólicas, que teriam a energia média produzida de 4.570 megawatts de Belo Monte, o investimento seria de R$ 32 bilhões, ante os R$ 19,5 bilhões da hidrelétrica. O ministro diz não ter nada contra a energia eólica, mas argumenta que o país tem um potencial hidrelétrico, mais barato, que precisa ser explorado.
"Nenhum subsídio foi dado a Belo Monte", disse Zimmermann. "Na Europa, os governos concedem um subsídio de € 25 por Mwh". As usinas do Madeira já tinham desconto de imposto de renda, porque esse é um benefício para a Amazônia, segundo ele. O enquadramento no Sudam também estaria nessa conta. E quanto ao financiamento do BNDES a longo prazo e a custo baixo o ministro explicou: "O financiamento de infraestrutura no exterior é superior a 30 anos e a juros baixos, por que não podemos fazer isso em um Brasil que nos últimos anos vive a estabilidade financeira?"
A defesa da usina de Belo Monte vem em um momento em que o projeto sofre uma série de críticas, seja da oposição política ao governo, seja de ambientalistas ou do próprio Ministério Público. Um dos principais argumentos dos opositores é justamente o custo que a usina terá ao país, além da tarifa vencedora do leilão de R$ 78 o Mwh. Pela conta destes críticos, o país pagará ainda pelos subsídios fiscais, do financiamento do BNDES e do próprio investimento a ser feito que é estimado em alguns casos em R$ 28 bilhões.
Zimmermann diz que o modelo regulatório em vigor no país prevê que o vencedor do leilão entregue a energia ao preço que vendeu, independentemente de quanto isso vai custar a ele como empreendedor. "O contrato prevê um preço de energia. Se o empreendedor conseguir gastar menos para colocar a usina em funcionamento, vai ganhar. Se a obra for mais cara, ele que vai perder, não o consumidor", diz o ministro. "E temos uma estatal que é minoritária e que está lá a pedido do próprio setor privado."
Isso significa que se a obra custar de fato o que as grandes construtoras como Odebrecht e Camargo Corrêa alegam que vai custar, cerca de R$ 28 bilhões, esse será um ônus dos investidores. Esse valor foi discutido por Furnas e Eletrosul, em documentos oficiais, publicados pelo jornal "O Globo". Nesses documentos, as duas empresas argumentavam que a rentabilidade do projeto estaria prejudicada caso fossem ao leilão.
"Três dias antes do leilão é quando um consórcio está negociando com as construtoras e é normal que haja pressão dos dois lados, de um para baixar preço e de outro para elevar o contrato", disse Zimmermann. "E é por isso que os contratantes argumentam que por determinado valor nem vão ao leilão". O ministro disse isso ao explicar que o valor do investimento se torna tão elevado em algumas contas em função do preço estabelecido pelas construtoras, que responde por cerca de dois terços de uma obra de uma hidrelétrica. "Esse projeto era nossa prioridade como já foi prioridade dos governos que nos sucederam", afirmou.
(Por Josette Goulart, Valor Econômico / Amazonia.org.br, 28/04/2010)