Estudo publicado na última edição da revista “Environmental Research Letters” corrobora a ideia de que a expansão da soja na região amazônica - mais especificamente em Mato Grosso - é um fator causador de desmatamento, ainda que indireto. Os cientistas analisaram dados de desmatamento, área de plantio de grãos, e tamanho de rebanhos nos municípios dos nove estados da Amazônia Legal entre 2000 e 2006.
Mapa publicado no estudo mostra áreas municípios com desmatamento e aumento de pastagens em verde; com desmatamento e aumento da soja em laranja; e com aumento da soja e decréscimo de pastagens em vermelho. Em Mato Grosso, é possível identificar uma faixa central com predomínio de expansão de soja, seja por desmatamento ou por substituição de rebanhos.
“A primeira causa de desflorestamento na Amazônia Legal foi predominantemente a expansão de pastagens, não da soja. No entanto, em Mato Grosso, houve um aumento da soja nas regiões antes utilizadas para pasto, que podem ter deslocado os rebanhos mais para o norte, nas áreas com floresta, causando desmatamento indireto ali", explica o estudo.
"Por isso, a soja pode ser ainda uma das maiores causas subjacentes do desflorestamento na região”, aponta a pesquisa de autoria de Elizabeth Barona, Navin Ramankutty, GlennHyman e Oliver Coomes, ligados à Universidade MCGill, no Canadá, e ao Centro Internacional de Agricultura Tropical de Cali, na Colômbia.
O diferencial deste estudo em relação a outros que vinculam a expansão da soja ao desmatamento, argumentam os autores, é que foi feita uma análise das mudanças geográficas na criação de gado para, levando em conta que a floresta não é derrubada diretamente para dar alugar ao cultivo de grãos, mas sim primeiro à pastagens.
Pesquisas anteriores na mesma linha faziam uma comparação direta do uso feito das áreas logo depois de desmatadas, com base em imagens de satélite. A pesquisa publicada na “Environmental Research Letters” usa dados estatísticos municipais.
O artigo cita hipóteses levantadas na literatura científica que explicam como a soja “empurra” o desmatamento sobre a floresta. Uma delas é que o cultivo de grãos é uma atividade com peso político maior que a pecuária, o que proporciona o investimento em infra-estrutura. A pavimentação de estradas nas novas áreas de cultivo levaria a expansão da fronteira agrícola.
Outro fator é a valorização da terra quando a pecuária é substituída pela soja. Ao venderem suas terras por preços até dez vezes maiores que pagaram, os pecuaristas se capitalizam e têm a possibilidade de comprar ainda mais novas terras dentro da floresta, que então desmatam para colocar seus rebanhos.
Um mapa montado pelos pesquisadores mostra que em Mato Grosso há um movimento rumo ao norte da pecuária. Enquanto numa faixa central do estado foi detectada uma expansão das lavouras e redução dos pastos no período 2000-2006, mais ao norte há expansão dos rebanhos e do desmatamento.
(Globo Amazônia, 28/04/2010)