Em meio à pioneira luta pela preservação do ambiente, o gaúcho José Lutzenberger encontrava tempo para cuidar dos seus nove jabutis, que mantinha no pátio de sua casa, no bairro Santana, na Capital. Trazidos há mais de três décadas para a cidade, os animais acompanham gerações da família do principal ecologista brasileiro, morto em 2002. Nesta semana, a Cascuda, a menor dos três quelônios que ainda vivem, desapareceu, para a angústia dos Lutzenberger.
Medindo cerca de 30 centímetros e com a casca mais grossa que o normal, Cascuda vivia com os jabutis-irmãos Hugo e Orange no pátio da casa que serviu de sede da Fundação Gaia até o início do mês. Com a mudança da administração para o Rincão Gaia, em Pantano Grande, o trio ficaria temporariamente sozinho. Segundo a filha de Lutzenberger, Lara, a turma de casco seria transferida para o Rincão quando a área destinada para eles ficasse pronta. Enquanto isso, eram alimentados a cada dois dias.
– Ela está na nossa família há mais de 30 anos e precisa de cuidados especiais. Essa espécie é terrestre e utiliza espaço aberto para sua locomoção. Cascuda não pode ser colocada na água, nem sobreviveria em um apartamento – afirma Lara.
A queda de parte de um muro vizinho teria aberto um caminho para Cascuda sair do pátio ou para alguém pegá-la. A aflição da família é grande, já que a jabuti era uma das preferidas de Lara.
Lutzenberger era um apaixonado pela espécie. Deu mostras disso num artigo assinado por ele em 1988, que falava do desastre das queimadas na região do pantanal.
“O caso mais trágico é o do jabuti, nossa tartaruga terrestre. Ela não tem como escapar do fogo. Se está, caminhando, pastando, comendo frutas, carcaças, excrementos, não consegue caminhar com velocidade suficiente para escapar. Se está dormindo, o que costuma fazer em complexos herbáceos densos ou debaixo de folhas secas, será torrada viva igual”, escreveu o ecologista.
(Por GUSTAVO AZEVEDO, Zero Hora, 29/04/2010)